#esquerda

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Almoço de família no domigo e uma prima traz seu afilhado de dois aninhos e pouco. Sem que eu diga nada, a criança me procura com o olhos, sorri com facilidade quando faço qualquer careta e basta eu mostrar as mãos abertas para que ele estenda os bracinhos me pedindo colo. “Que liga com criança, hein primo!” ela comenta surpresa. Minha tia, que sempre gostou muito de mim, emenda: “Você seria um ótimo pai! Não pensa em ter filhos?” Respondo que ainda não encontrei uma mulher que compartilhasse dos mesmos valores que os meus e que eu amasse o bastante para ter uma família. Outra tia, em tom de provocação, pergunta: “Tem que ser de esquerda e vegana também?” Vem-me à mente a imagem da última mulher que amei de verdade agachada no banheiro do Cabaret Voltaire, chupando a rola de um desconhecido e me olhando com aqueles enormes olhos negros enquanto eu segurava a porta para que ninguém nos atrapalhasse. Lembrei-me da porra escorrendo dos seus lábios que sorriam ao descobrir que o rapaz que havia acabado de chupar tinha o mesmo nome que daríamos a um filho se o tivéssemos. Voltando do meu devaneio, respondo: “Tem que ter a mente e o coração abertos, tia.”

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