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Na escola “Era o cheiro da pobreza, naquele outono de 1945. Contavam-se pelos dedos os que tinham sa

Na escola

“Era o cheiro da pobreza, naquele outono de 1945. Contavam-se pelos dedos os que tinham sapatos. Alguns vinham de chancas, outros de tamancos, a maior parte descalços. Vestiam calças e camisas de cotim, a saca que traziam a tiracolo era da mesma fazenda, todos os anos oferecida por um benemérito emigrado no Brasil.”

Manuel Alegre, “Alma”; fotografia de Bernard Hoffman, Portugal, década de 1940.


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 A loja“Era a maior loja da vila. com um balcão retangular, como os das grandes lojas dos filmes ing

 A loja

“Era a maior loja da vila. com um balcão retangular, como os das grandes lojas dos filmes ingleses e americanos, com as suas fazendas desdobradas em cima do balcão, as cadeiras altas onde se sentavam o ti Florẽncio, seu filho Artur e os empregados mais antigos. cheirava a lã, a fazenda e a serradura espalhada pelo chão nos dias de chuva.”

Manuel Alegre, “Alma”; a loja fotografada sabe-se lá por quem chamava-se Armazéns Hermínios e ficava no Porto e não em Águeda, perdão, em Alma.


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O rio“Foi no rio Alma, primeiro junto à nora, mais tarde na piscina, que aprendi a nadar.Ao fim da t

O rio

“Foi no rio Alma, primeiro junto à nora, mais tarde na piscina, que aprendi a nadar.
Ao fim da tarde, a malta vinha da escola e das fábricas, despia-se e mergulhava. Ninguém usava fato de banho, ninguém fazia cerimónia com as lavadeiras que batiam a roupa nas suas tripeças dentro do rio.”

Manuel Alegre, “Alma”; pintura de George Bellows.


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A casa“Enfim, era a casa. A casa com seus retratos, seus ruídos, seus silêncios e seus mistérios. O

A casa

“Enfim, era a casa. A casa com seus retratos, seus ruídos, seus silêncios e seus mistérios. O soalho de madeira que de noite rangia, os móveis muito antigos, de onde por vezes vinha um pequeno estalido. Quase como um gemido.”

Manuel Alegre, “Alma”; pintura de Vilhelm  Hammershøi.


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Medo“Eu continuava a escapar-me. Contaram-me depois que o meu pai tinha dito: O rapaz está com medo

Medo

“Eu continuava a escapar-me. Contaram-me depois que o meu pai tinha dito: O rapaz está com medo de morrer e se não lhe tiramos esse medo ele morre mesmo.”

Manuel Alegre, “Alma”; pintura de J. Bond Francisco.


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Adelaide“Ainda hoje, não sei porquê, ao olhar o busto da República, quem eu vejo é Adelaide. Ou entã

Adelaide

“Ainda hoje, não sei porquê, ao olhar o busto da República, quem eu vejo é Adelaide. Ou então, um seio de fora, é ela que sai do quadro de Delacroix.”

Manuel Alegre, “Alma”; Eugène_Delacroix, “O 28 de julho -  A Liberdade guiando o Povo”. A memória gosta de pregar partidas: a Liberdade do quadro tem dois seios de fora.


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Amelinha“De amásia de padre, Amelinha tinha passado a concubina do presidente. Recebida em todas as

Amelinha

“De amásia de padre, Amelinha tinha passado a concubina do presidente. Recebida em todas as casas, era ela que servia de mediadora para as cunhas e os empenhos. Pouco a pouco foi-se tornando uma instituição de utilidade pública.”

Manuel Alegre, “Alma”; pintura de Harold Harvey.


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A mãe“Mas havia nela uma energia que devia ter sido canalizada para a política, para os negócios, pa

A mãe

“Mas havia nela uma energia que devia ter sido canalizada para a política, para os negócios, para o empreendimento, fosse qual fosse. As rotinas da casa não eram suficientes para tanta energia.”

Manuel Alegre, “Alma”; pintura de Paula Rego.


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Fidalgos“Estava entre os seus, havia em todos eles a orfandade de um mundo desaparecido e a alegria

Fidalgos

“Estava entre os seus, havia em todos eles a orfandade de um mundo desaparecido e a alegria do companheirismo e das caçadas, eles eram os últimos fidalgos num tempo em que já não havia lugar para fidalguias. De certo modo eram marginais, viviam segundo outras regras e outros ritos”

Manuel Alegre, “Alma”; pintura de Sir Joshua Reynolds.


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