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O Passear das Chamas

A cidade estava sendo consumida por chamas. O fogo se espalhava rapidamente pela cidade inteira, tomando cada espaço possível.

Ninguém viu o incêndio começar.

Passava um pouco da uma hora da manhã quando começou. Todos estavam dormindo e a cidade estava em silêncio. Até o primeiro grito, é claro. Mas, quando eles ouviram o primeiro grito, já era tarde demais. O fogo já consumia um quarteirão do centro da cidade e avançava vorazmente. As chances de apagar o incêndio eram poucas.

Desesperados, os moradores tentaram escapar - em vão. Outro incêndio muito maior cercava a cidade completamente, como uma grossa faixa de segurança para manter todos do lado de dentro. E o fogo avançava cada vez mais na direção do centro. O quarteirão em chamas no centro da cidade era apenas uma prévia do verdadeiro show.

As chamas consumiram rapidamente cada casa, prédio, loja, biblioteca - simplesmente tudo -, como um animal faminto, sempre querendo mais e mais. Vários já estavam mortos - mortos pelo fogo, por asfixia ou pelo próprio desespero. Os que ainda estavam vivos gritavam em agonia, sabendo que todos teriam o mesmo destino entre as chamas. Mas não podiam fazer nada para mudar isso. Tudo o que eles podiam fazer era lutar por alguns segundos a mais e ver sua vida ser destruída lentamente, assim como a de todos ao seu redor.

Era meio da madrugada. A fumaça do fogo impossibilitava a vista das estrelas e da lua no céu. A leve brisa que espalhava o calor fazia parecer que estava chovendo cinzas. As cinzas do que um dia foi uma cidade pacífica. Os gritos de dor e desespero eram ouvidos a quilômetros de distância, mostrando a agonia daqueles que ainda estavam lutando para sobreviver.

No centro da cidade, sobre o prédio mais alto, uma garota observava a cena. O fogo era refletido em seus olhos castanho-avermelhados. As cinzas caíam sobre ela, enfeitando seu cabelo como se fossem flocos de uma neve mórbida. A brisa fazia seu vestido vermelho esvoaçar, como se ela mesma também estivesse em chamas. Os gritos desesperados penetravam em seus ouvidos. O calor aquecia sua pele clara. E ela sorria.

A garota cantarolava uma música para si mesma enquanto observava o caos e o desespero. O meio sorriso de satisfação e orgulho de sua obra nunca saía de seu rosto. As chamas começaram a consumir cada vez mais o prédio no qual ela estava e ela percebeu que era hora de descer.

Ela foi até a borda do prédio e olhou para baixo. Era uma queda alta de, aproximadamente, vinte e cinco andares, e o chão estava em chamas. Mas ela não se importou com esses detalhes. Ela se virou de costas e se inclinou para trás até perder o equilíbrio. Em alguns segundos, já estava em queda livre, seu corpo em paralelo com o chão, se aproximando cada vez mais deste. Ela encarou o céu enquanto caía e imaginou as estrelas que se escondiam em cima da fumaça do incêndio.

Quando estava a poucos metros do chão, um vento soprou forte em sua direção vindo de baixo para cima. Foi como se o vento a estivesse segurando e diminuindo sua velocidade. Quando ela chegou ao chão, ela o tocou com seus pés delicadamente.

Ela começou a andar para a frente, ignorando os pedidos de ajuda e os gritos. Ela desviava de automóveis, prédios e postes pegando fogo.

As chamas não a queimavam. Pelo contrário. As chamas traziam uma sensação de segurança para ela. As chamas a protegiam, nunca a machucavam. Então, ela continuou andando até que ouviu uma voz a alguns metros de distância.

-Você demorou.

Um caminho se abriu no meio do fogo. O caminho ia da garota até um garoto de cabelos castanho-escuros e olhos negros. Suas roupas pretas estavam cobertas de cinzas, assim como seu cabelo, e ele dava um meio sorriso para a garota. Ela sorriu de volta.

-Estava apreciando a vista.

Ela explicou. O garoto sorriu mais enquanto se aproximava dela. Conforme ele andava, as chamas cobriam o caminho atrás dele, até que havia apenas cerca de dois metros quadrados sem fogo - o lugar onde os dois estavam. Ele estendeu a mão para a garota e perguntou:

-Você gostaria de dançar nas chamas?

Ela sorriu mais.

-Não foi para isso que nós viemos?

Ela respondeu enquanto colocava sua mão sobre a dele. E eles dançaram no meio das chamas e da ruína da cidade, no meio de uma chuva de cinzas em uma noite sem estrelas no céu. Eles dançaram em meio ao desespero e ao caos como se eles mesmos fossem parte do caos e do desespero. Eles simplesmente dançaram.

Escrito por Misty 

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