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Poucos dias atrás o meu gato Harry fugiu de casa e fiquei desesperada. Depois de 48h sem ter nenhuma

Poucos dias atrás o meu gato Harry fugiu de casa e fiquei desesperada. Depois de 48h sem ter nenhuma pista para onde ele tinha ido, ficamos sem ideia do que fazer além de tudo o que já havíamos feito. Então fui até meu altar kemético e pedi para que Bast trouxesse ele de volta, oferecendo para Ela 7 dias de culto. Menos de 30 minutos depois encontramos ele. Hoje meu agradecimento começa, mas tenham certeza que mesmo depois dos 7 dias, meu carinho, respeito, dedicação e retribuição continuarão como sempre se mantiveram ao longo de todos esses anos.


7 dias de culto em homenagem ao amor e ferocidade de Bast

- DIA 1 -

Bastet, a senhora protetora e devoradora

Refletir sobre o culto de Bast é entender as diferentes interpretações dessa divindade ao longo de sua história. Hoje, ela é muito cultuada como uma deusa relacionada ao lar e cuidadora dos gatos, possivelmente pela difusão da cultura do gato como um animal doméstico em todo o mundo. Talvez na mesma intensidade dentro dos cultos modernos, Bastet possui fortes ligações a processos maternos e sexualidade. Mas existem outros arquétipos no culto dessa grande divindade, Bast também possui uma grande representação de protetora e senhora da batalha, mais difundida no período anterior ao intenso sincretismo entre a cultura grega e kemética (egípcia).

 A origem para domesticação dos gatos foi anterior a Kemet (Egito), mas foi o povo antigo desse local que teve um grande papel na disseminação do carinho e admiração desses animais para outros países. O nome “miw” foi um dos primeiros registros utilizados para se referirem aos gatos e é possível que o ancestral desses populares nos lares egípcios tenha sido o Felis lybica. Apesar dos períodos dinásticos posteriores apresentarem muitas vezes o gato enquanto ser gentil e ligado a brincadeiras, a situação deveria ser bem diferente no tempo pré-dinástico, em que o gato selvagem era um animal reverenciado pela ferocidade assim como o leão, o que pode auxiliar no sincretismo e confusão entre deuses-gato e deuses-leão-leoa. O culto dos keméticos à Bastet mudou a forma de como o mundo enxerga os gatos, tornando essa Deusa uma importante parte da história da relação da humanidade com animais, estando registrada em templos, papiros e carregando um forte símbolo do que um dia Kemet já foi.

No Império Antigo em Kemet, conhecido também como “A Era das pirâmides”, as referências a Bast eram mais frequentes em monumentos reais. O construtor da Segunda Pirâmide em Gizeh (2600 antes da Era Comum) descreveu-se como “amado de Bastet” em uma parte da porta de seu templo. No Templo do Vale da Pirâmide de Khafra ao lado da Esfinge, tinha um portal de Bast e estátuas da Deusa da companhia do rei. Sahu-Rer fez oferendas a “Bastet, Senhora de ambas das terras em todos os seus lugares” em um relevo do templo de Ny-woser-Re mostrando uma deusa com cabeça de felino segurando um cetro de papiro com os nomes de Bastet e Sekhmet com cabeça de leoa.

Bastet era uma grande protetora da casa real e do Alto e Baixo Egito (“ambas as terras”) e poderia ser relacionada às batalhas e a ferocidade, como o Amun-hotpe II escreveu: “Sua Majestade procedeu a Retenu [Palestina-Síria] em sua primeira campanha vitoriosa, seu rosto terrível como o de Bastet”. Também existe o registro de Sethy I que se descreve como "valente no coração da batalha, uma Bastet terrível em combate”. Isso nos faz refletir como uma divindade como Bast, que provavelmente teve os primeiros passos de culto no período pré-dinástico, se remodelou à medida que a própria visão do animal gato enquanto ser feroz atenuou-se pela domesticidade, mudando com maior intensidade com o contato de culturas estrangeiras.

Antes mesmo da invasão grega, Bast já era sincrética com vários aspectos de Hathor e da sexualidade, e no período grego propriamente dito, Ela se transformou e foi equiparada a deusa Ártemis, sendo considerada protetora das crianças, mães grávidas e músicos. Mas apesar do passar do tempo e das mudanças na relação e visão com os gatos, Bubastis, cidade principal de culto a deusa Bast em Kemet, sobreviveu por muito tempo. Heródoto, por exemplo, escreveu um famoso relato sobre o belíssimo templo de Bastet em Bubastis e sobre o grande festival dessa deusa que era realizado no local todos os anos, a cidade entrou em decadência por volta nos meados do período romano.

Observando a história que temos acesso do culto de Bast, os arquétipos mais difundidos hoje não substituem os “de antigamente”. Na verdade, o processo de adição deve acontecer, pois a quantidade de representações dessa divindade a mostram soberana, perseverante e devoradora do tempo, mesmo com o advento da modernidade. Bastet pode ser vista enquanto deusa do lar e sexualidade, mas não é necessário e nem possível apagar seus arquétipos enquanto aquela que protege e devora os inimigos. Bast é uma deusa que podemos chamar para proteção dos nossos animais e também para nossa própria proteção e enfrentamentos de nossas batalhas. Seu domínio perpassa a felicidade e a raiva, o amor e a força, o coração e o medo. Uma Senhora implacável para os ancestrais keméticos que iam caçar pássaros quando a viam espelhada nos gatos selvagens. Uma Deusa inigualável para nós que buscamos um lugar ao sol ao lado da ordem divina.

DUA BAST!

Autora: Appalachia (iohara Quirino)

  • Referências

- Rev. Dr. Tamara Siuda, via kemet.org

- “The cat of Bastet” por Nora E. Scott do The Metropolitan Museum of Art Bulletin

- A longa e incompleta domesticação dos gatos por “Scientific American Brasil”

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