#projetoalmaflorida
Alimentado defronte ao fogo
na caverna dos simulacros
e laxantes do pequeno guru
o capitão da triste figura
galopava aos moinhos de vento
e travava batalha tenaz
pelo irreal
Ali fingiam ser
razoáveis
ungidos
heróis
Ali
na rua dos bobos
número zero
— Ewertão
Cascos tilintam no recolhimento
À capela
convocamos derradeira canção
Na rua dos vivos
amanhece o imparável dia
— Ewertão
Mais que acréscimo de miudezas perdidas
o retorno cuidadoso revela
transformações
que a alma cultivara em si
no ínterim precioso
Diz-me a guardiã, cavalgando a imensidão:
é preciso que vasculhes
eterno visitante
até o fim de tuas sendas
para compor os signos todos
que me alegro em oferecer
— Ewertão
I.
Contradição perigosa traz o artista
nos cantos
do imperativo calculista
II.
Venha, meu bem
nos cantos é que as coisas
sempre pegaram fogo
— Ewertão
Nesses dias
eu pensava no tempo
porque o tempo era meu
e era meu porque a vida era minha
e era minha porque a chuva corria
lá fora
aqui dentro eu pensava
no calor que quisesse
pelo tempo que quisesse
quantos sofás eu fizesse
de universo e de chão
e nada
nada, nada
era melhor que a toada
da chuva de Dezembro
gestadora de verão
— Ewertão
Tudo tem seu dia
e seu vento
de tempo a fazer a curva
E então
Tudo tem seu dia
e seu tempo
de vento a fazer a curva
E então
Tudo faz sua curva
— Ewertão
O que lhes comunico, ouvintes atentos
que não tenha sido emprestado
às antenas que por ora envergo?
Definições, ó definições
não aperreiem o mistério
espaço de nascimento amplo
e viagem sedutora
Venham, ó espíritos livres!
aconcheguem-se todes
traduzamos, parodiemos
passemos as cumbucas do sagrado banquete
acolhido em cada morada
orientada e aberta
a viagens de muitos rumos
Em expansão
alimentemo-nos
— Ewertão
Na estação horizonte
expando meu espaço
em livre construção
coexistente-atmosférica
— Ewertão
Falam-me de boca cheia
e coração vazio
a verdade vos libertará…
Olhando essas videiras
que nunca deram senão figos
pergunto
…Barrabás?
— Ewertão
talvez se eu fosse um pouco mais autocomplacente não mentiria tanto para mim mesma com a vaga desculpa de que é melhor ignorar certas coisas em mim mesma para conseguir deitar a cabeça em um amontoado de maciez e fechar os olhos por alguns instantes como se tudo fosse perfeito, do que ter que lidar com toda a desordem que venho tornando o meu eu.