#projetoreconhecidos

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A Fragilidade

está presente em todos,

o que nos diferencia é a armadura

a frieza, ou a abertura que se dá

às cruéis criaturas

que nos rodeiam.

(As pessoas…)

Depois de ter tido os sentimentos expostos
De ter se decepcionado
E ter sido enganada
Depois de ter tido o coração abusado
De ter se culpado
E ter sido machucada
Decidiu bancar o papel da vadia.
Irônico… não?

muitos preferem recitar
e alto o proclamar.

eu, particularmente,
gosto mais de no silêncio,
uma mão se dar,
ou simplesmente pelos olhos,
o amor declarar.

Há uma parada na estacão do próximo tempo

Há pétalas solúveis jogadas na forma de saudade por aquela janela

São destinadas a um cavalheiro mal vestido com sotaque erudito

O dito homem esta fincado como um poste inerte a espera daquela pétala

A saudade é pronunciada por mãos leves de uma luva de seda

O cavalheiro aguarda na ansiedade que deste a si mesmo

Amparado pelo desejo impaciente, porém controlado em revê-la

(Sim, eles já tinham uma história inacabada)

O céu esta escuro, o sol não se manifestou, mesmo que o relógio badale em horas diurnas  

O tempo esta frio

Garoa um pouco

O tempo da locomotiva se aproxima

O cheiro das pétalas desgarradas se avizinha

Há uma parada na estação

Mas ela ainda não se fincou nos trilhos rebeldes do tempo inquieto

O coração do cavalheiro chora comedido

A visão de um amor se achegando confirma-se por um sorriso

Contemplando uma pequena janela do vagão 26

Ele a aguarda

Ele espera, (há muita espera)

Ele a segue em pensamentos que não cabem no mundo

Ele cumprimenta com silêncios de timidez

As palavras, todas selvagens, não o obedecem

Mas o sorriso

Um sorriso viril e genuíno fala pelo cavalheiro a espera do vagão 26

O beijo aconteceu

E o porvir pós toques de lábios subjugou aquele homem viril frente aquela dama com luvas de seda

Era amor verdadeiro, confirmou-se

Ela, nem tão comedida como esse suposto cavalheiro

Planta algumas palavras jogadas no calor do momento

A semente brota e já não é um dia tão escuro assim  

É sábado…

E se não o fosse, eu ainda estaria te amando no instante que leres estas palavras.

- Ronaldo Antunes

E se eu, de repente, lhe roubasse um beijo, tu me prenderia no teu amor? Prisão perpétua? Ah, me diz que sim…

A.C

Há mais cores na aquarela do nosso amor do que poderiam pintar nossos desenhos vãos…

A.C

Respira
Ação
Ofegante
Suor
Escorre
Nas pernas
O gozo
E fim

A.C

Não, você não está entendendo! A impressão dos teus lábios nos meus é a poesia que eu quero ler, todos os dias, até o ponto final.

A.C

Ela passeava pelo mundo de mãos dadas com o absurdo, seus cabelos cheiravam a laranjeira em flor. Seu sorriso, branco como o jasmim, perfumava o ar a sua volta. Ela era ainda mais linda sob o sol, tinha o gosto das manhãs de inverno na beira do fogo. Com ela sentia-me em casa, e era bom estar em casa novamente.

A.C

[fragmentos para ela]

Teu corpo
Um poema
Do universo
Escrito em minha mão

Tua boca
Esta tela
Pintando de vermelho
Todo o tesão

Você,
Morena
Sedenta
Da nossa paixão

A.C

[fragmentos pra ela]

Quando os teus dias por ventura se cruzarem com os meus,
uma aquarela multicolorida há de pintar a tela das minhas horas.
As tuas cores hão de invadir minha retina,
transformando todo cinza em madrepérola.
Tua luz refletida no verde discreto dos meus olhos
Tua pele em contraste com meus tons de branco
Toda a tua paleta de cores
Permeando o universo e transmutando
Todo o concreto em floresta
Teus dedos, pincéis, pintando minhas curvas
Teu sorriso, a água que dilui todas as minhas tintas
Escorrendo no papel dos meus dias
Pintando todo o céu de amarelo,
Laranja intenso, o nascer do teu sol
Na minha janela.

A.C

Eu roubei as canetas
Dos poetas
Pra escrever
Em tuas pernas
Todos os poemas de amor

A.C

Vem cá, mulher
Senta ao pé da cama
Tira a roupa, vou
Te deixar rouca, louca
Te fazer chorar

Vem cá, mulher
Me entrega teus segredos
Me abre esse sorriso
Fecha logo os olhos e
Abre logo as pernas

Vem cá, mulher
Desliga essa TV
Que o tempo todo do mundo
Ainda assim é curto
Pro tanto que eu quero te ter

A.C

[fragmentos pra ela]

O tapete azul da sala,
Vazia,
Reclama seu corpo
Como propriedade,
Nu,
Perdido entre as almofadas
Testemunhas do nosso gozo.
Mas não sou eu quem sinto sua falta,
É só o tapete azul que se afeiçoou
Pelo moreno da tua pele.


A.C

Eu pus meu melhor vestido
Me vesti de saudades
E sai rua afora gritando seu nome

A.C

[fragmentos pra ela]

As tuas cores pintam a aquarela dos meus dias de um laranja sol de amanhecer, rompendo a barreira cinza do dia a dia sem teus beijos.

A.C

Sem abrir os olhos agarrei os lençóis amassados da nossa cama. Aspirei nosso cheiro impregnado no algodão branco. Você não estava lá. Sufoquei teu nome e me levantei.

A.C

Ela era um cometa em rota de colisão com o seu planeta, a ele só restava esperar o impacto dela na sua gravidade.

E quando me dei conta eu já havia tirado a roupa, tirado a alma pra fora e me exposto. Ela me devorava como o fogo à palha seca, e se espalhava. De repente eu era todo ela, sem nem me importar.

A.C

Veja bem, não é que o mundo não tivesse cores antes de você voltar, é mais algo como, como posso explicar… é como se de repente eu fosse jogada num quadro de Van Gogh, sim, aquele dos girassóis, sabe. Pois é, é um pouco isso, desde que você voltou o mundo anda mais iluminado, mais radiante, menina. Talvez seja esse seu sorriso largo que tudo ilumina, talvez sejam só meus olhos sempre tão abertos pra te ver passar, desde que você voltou…

[Angelina C]

Senta aqui, menina, vamos escutar a noite chegando e esse céu azul mudando de cor. Vamos escutar o som que as cores tem, esse farfalhar de folhas barulhando, e de céu alaranjando no entardecer. Vem cá, presta atenção, ouve, que lindo, esse contraste entre a tua pele morena e minhas manchas brancas nas cores do anoitecer…

A.C

E eram dias de sol
Tardes de inverno
Noites de luar
Folhas no chão
Flores a brotar
Cores pra pintar
Teus desenhos
Colorir
Pijamas de vestir
Olhos de sorrir
Beijos pra beijar
Tua boca a me fitar
Teus olhos a me despir
Mãos pra abraçar
Nossos sonhos
Distraídos
De outono
Primaveras
E ela a dizer
SIM

A.C

As mãos dela descreviam linhas tortas em minhas curvas brancas, poemas, escritos com seu suor na minha pele fria…

A.C

E quero todo dia teu sol no meu céu, laranja, acordando a madrugada…

A.C

O sol rompe o dia 
Iluminando a janela
Cor púrpura boreal
Clareando nova era
O céu era eu
E a aurora era ela

A.C

Nem só de primeira vista nasce um amor, eu gosto mesmo é destes que fazem a gente virar a cabeça todas as vezes que passam, até que ficam.

A.C

No breu do meu quarto tateio a procura do teu corpo, às minhas mãos finas restaram somente os lençóis frios do seu lado da cama.

[fragmentos - desde que você se foi]

A.C

Era o próprio absurdo
Tua pele nua,
Folha seca,
Repousando leve
No chão da sala.

às vezes clarão em meio a noite escura

às vezes a própria escuridão da noite

continuo pelos momentos em que um relâmpago irrompe a tempestade

como um coração bombeando vida

cs.

sobre coisas que eu aprendi depois que passou a paixão e que todas as mulheres deveriam saber.

o encantamento da paixão, embora seja bom sentí-lo, nos cega de ver a verdade. e não tem Cristo que te faça mudar de ideia. por diversas vezes me avisaram sobre determinadas pessoas, mas eu estava apaixonada. não acreditei nelas. acreditava que o amor estava presente ali, mas amor é bem diferente de tudo.

eu sempre fui uma pessoa bem fechada e reservada, inclusive com namorados. quanto mais um homem (e sim, vou utilizar a palavra homem) sabe a seu respeito, mais manipulável você é. ainda mais se você não teve muitos amores na sua vida, será ainda mais fácil para ele se “fazer de homem dos sonhos”, afinal você não tem muito com o que comparar, certo? certo. você ainda não viveu o suficiente para saber distinguir o véu do encantamento que ele te joga todo santo dia versus o amor. digo mais uma vez, o amor é bem diferente.

ele vai te dizer que entre todas você é a mais linda, que você é a única e mais um monte de coisas - as quais vão te deixar hipnotizada e maravilhada, tudo porque quer te dizer aquilo que você e sua consciência querem ouvir. essa é a técnica infalível: massagear o ego. e a verdade (nua e crua) é que nada do que ele faz pra você hoje é único. ele já fez para outras as mesmíssimas coisas. ele te faz parecer especial, assim como todas se sentiram especiais antes de você. ou antes de descobrirem a verdade sobre as reais intenções dele.

pior ainda se ele faz parecer que todas as outras foram loucas e insuficientes. nada pior do que um cara que fala mal das namoradas anteriores. mas ele quer te exaltar, e por isso vai rebaixar outras mulheres. isso não é legal. mas você vai sentir um ar de superioridade e nossa, como eu sou capaz de fazê-lo tão feliz e satisfeito como ninguém! a sua sororidade vai cair por terra, mas não porque você não respeita as outras minas, e sim porque o encantamento mais uma vez te cegou. já foi assim comigo, e eu sei que isso acontece com várias outras.

ele não quer te perder. agora que ele sabe que você está sob encantamento, ele precisa de você ali para satisfazer os seus desejos, pra dizer que tem alguém e pra manter o ego inflado.

ele te fala coisas bonitas? ele me falou coisas maravilhosas que ninguém nunca havia falado. ele faz de tudo pra te manter satisfeita na cama? pois bem, ele se dobrava em oito para me manter feliz na cama, e conseguiu por várias vezes. ele te leva café da manhã na cama e cozinha pra você? te deixa escolher o que quer fazer? diz que quer fugir com você? que quer casar com você? nada disso é diferente do que ele já fez e do que faz. mas o encantamento faz parecer que sim. faz parecer que finalmente você encontrou alguém disposto a amar você, e exclusivamente você. e que está entregue totalmente. mas é tudo manipulação. é bem capaz que ele crie um afeto, afinal impossível sair imune de uma convivência. mas amor? amor não, amor é bem diferente.

a gente tem a mania de se agarrar no mínimo de apego só pra ter o que sentir. é inerente do ser humano, precisamos ser amados ou sentir que estamos sendo amados. por isso vamos nos agarrar em qualquer vestígio de apego. e essa é a causa de todo sofrimento, quando você acreditava no príncipe encantado e depois o véu do encantamento finalmente cai.

você é tratada como rainha? sim, para que pense duas vezes antes de desconfiar dele. você é tratada como rainha para que ele te tenha nas mãos. para que o perdão venha mais fácil nas horas difíceis. e para que, antes de tudo, você pense que a história que vivem é como um romance nos filmes.

ha-ha-ha.

é triste. é abusivo. e ninguém vê a abusividade quando disfarçada de “amor”.

quando alguém tentar te avisar, você vai julgar como inveja ou loucura, e se perguntar: por que alguém tão apaixonado estaria me enganando? impossível. justo ele que faz tudo por mim? diante de tudo que me diz e de todas as promessas feitas? ah não.

é o que eu digo. tratar como rainha e massagear o ego funciona como mágica e feitiçaria. se você nunca teve isso, piorou.

você vai acreditar que ele também é único, que não haverá outro “amor” assim. que ele faz você se sentir como nunca antes. minha avó dizia que te fazem de bobo até você entender a vida como ela é. aprendi com os mais sábios e os mais velhos todo o sentido. as pessoas te fazem de tola porque você ainda não viveu muito, ou simplesmente porque você já contou a elas tudo o que viveu e elas vão fazer um pouco melhor que isso, só pra fazer você ficar.

como dizia Descartes, “desconfiar de tudo era a única coisa no qual ele estava absolutamente certo”.

cuidem-se com esses caras. esses que fazem você perder o chão e a cabeça. tem sempre alguém lá fora, de coração enorme e bom, cheio de amor de verdade pra dar. tem sempre alguém que pode fazer muito, muito mais por você. não aceite desculpinhas, não aceite traições, não aceite menos do que você merece. esse encantamento que você acha que é amor vai doer só no começo, isso se chama desilusão, e é ocasionado pela destruição de um monte de coisa que você viu como “enorme”, mas existia só dentro da sua cabeça. e não foi sua culpa, te levaram a pensar assim. e quem fez isso, não merece você.

não mais. não agora. e nem nunca.

eu não teria te conhecido se você não quisesse. na verdade, tudo aconteceu porque você me encontrou. eu sempre vivi aqui, na minha órbita, muitas vezes sozinha mas sempre feliz. você me viu e pesou seu olhar sobre mim uns segundos a mais do que deveria. então numa noite quente você veio até mim. eu deixei, é claro.

você me perguntou várias coisas como quem estava com sede no deserto e encontrou um poço de água potável. como quem quisesse descobrir quem eu era no mundo, como se quisesse descobrir meu mundo todo. mas eu nunca fui um livro aberto e me tornei o seu desafio mais prazeroso. eu nunca fui de falar muito e isso te deixava louco porque você queria sempre mais. e por isso mesmo acabamos passando algumas horas a mais juntos, dia após dia. quem sabe você conseguiria mais de mim com mais tempo? era isso, não era?

perdi as contas das vezes em que reclamou do meu jeito recluso, esse de não deixar ninguém entrar facilmente, esse de não deixar ninguém ler minha mente. eu não te contava tudo e você sabia. isso te enlouquecia, eu via no olhar feroz que você lançava sobre mim sempre que eu me negava a iniciar alguma historia. eu desabrocho na escrita porque é seguro. porque eu sei até onde ir e quem pousará os olhos sobre ela. mas não estou acostumada a desabrochar para as pessoas.

eu sei que não será sempre assim, um dia eu vou sentar com alguém em um lugar qualquer, vou olhar nos seus olhos com firmeza e prepará-lo para ouvir toda a minha vida. como uma entrevista com um vampiro. e quando eu acabar, ele me olhará maravilhado com tudo o que escondi por décadas e então o deixarei. não posso viver lado a lado com quem sabe me ler dos pés à cabeça. a graça reside na curiosidade, em saber um pouco de mim lambendo meus dedos, me forçando contra a parede enquanto morre em meu pescoço ou na minha lombar, me comendo com os olhos e em cima do sofá, me surpreendendo pra entender minhas reações, e me deixando ir quando entender que eu sempre serei assim, uma criatura que vem do espaço e que vez ou outra um humano a conhece, e depois disso ela desaparece e vira lenda.

eu sou como uma lenda.

sinto vontade de dormir e não te ver em sonhos. esperando acordar em um mundo onde você não exista. onde as ruas não têm um passado, músicas não têm nenhum significado especial e as pessoas não perguntem sobre nós.

desejo acordar em um mundo sem estações, sem o calor ardente de janeiro e onde a névoa na janela não esteja contaminada com seu nome.

gostaria de acordar em um mundo onde o amor fosse aproveitado, onde o derramassem em copos de vinho e bebessem as melodias de loucura.


as pessoas deveriam saber que olhar nos olhos do outro e ser honesto, apesar de nem sempre ser fácil, é o gesto mais bonito que se pode fazer por alguém. quando tiver a oportunidade de ser honesto, seja. não fuja, não dê as costas e não vá embora sem dizer nada. sem dizer as suas verdades e sem ouvir as verdades do outro. a vida passa num sopro, como o vento, e é nesses detalhes que a deixamos escorrer pelos dedos como areia. depois disso você até pode ir embora sem dizer adeus. mas antes, só seja honesto.

eu lembro de quando você disse que meu sorriso te encantava. e eu achei aquilo esquisito porque eu não gosto do meu sorriso. mas você gostava. e quando você me levava café na cama costumava dizer que eu era linda pela manhã. e eu achava aquilo esquisito. não acreditava direito em você, por que como é que pode? eu me acho super estranha pela manhã, os olhos inchados e um pouco de olheira, boca inchada, cabelos desgrenhados e em pé. você também dizia que meus seios eram lindos. os mais lindos que você já tinha visto na vida e que eles deveriam ser usados como moldes. eu ria.

“você não entende?” você dizia pasmo e incrédulo que eu não acreditava muito em ti, “os seus seios são os mais lindos que eu já vi na vida. eles são perfeitos. deveriam ser usados como moldes. tudo tem simetria. você já percebeu a geometria do seu rosto? às vezes eu me perco prestando atenção nas diferentes formas dependendo do ângulo que você está olhando. parece que foi desenhado à mão. e tem essas pernas longas que eu adoro… quando te vi só com minha camiseta e essas pernas longas de fora, eu fiquei louco”.

e eu ria, ria, ria…

nós não teríamos nos conhecido se você simplesmente não tivesse vindo até aqui naquela noite, cansado depois de um dia de trabalho. afinal eu continuaria vivendo no meu universo particular, como sempre vivi. aqui bem distante de todos e do mundo. sempre focada em mim.

você não teria que me pedir em namoro se não quisesse. poderia ter sido só um encontro casual. naquele dia eu saí dizendo pra mim mesma “não vou transar no primeiro encontro, não vou transar no primeiro encontro”, mas daí a gente se olhou e estávamos perto o suficiente pra faísca virar chama. e tudo pegou fogo.

você cuidadosamente quis conhecer todo o meu corpo, um dia após o outro.

você não teria que ter vindo todas as vezes. e nem eu. e você não teria que ter se espremido pra caber na minha cama pequena naquelas noites pra dormir comigo.

você não teria que ter me visto quase todos os dias da semana. você não teria que me convidar pra morar com você. e se eu tivesse dito sim?

você não teria que ter feito nada, de tudo. mas você fez. e o fim foi como uma peça de teatro, onde a cortina se fecha e bum!, tudo acaba. e o público fica boquiaberto se perguntando “mas é assim que acaba?” ou ficam em dúvida: será que já acabou mesmo?

a vida é estranha. as pessoas fazem muito, por um tempo, pra no fim não fazerem nada. absolutamente nada.

agora eu me pergunto: de que vale tudo?

eu tive um sonho onde eu corria de você. corria tanto que eu mal respirava. foi bem no dia que eu decidi ir embora de você, pra sempre. e eu sei que pra sempre é uma mentira (quase sempre) mal contada, porque um dia a gente irá se esbarrar e o filme na minha cabeça vai voltar em câmera lenta. mas até lá, saiba que fui embora. saiba que a cada dia eu me esforço pra dar um passo maior que o último.

é incrível como alguém sempre erra comigo. e dessa vez foi você. e dessa vez o erro foi grotesco. e dessa vez você foi covarde. e dessa vez não teve a coragem de me olhar nos olhos e pedir perdão. ou sei lá. dizer qualquer coisa que fizesse tudo parecer menos pior.

e por isso mesmo, eu fui embora de você e doeu. e você não merece um pingo dessa dor, mas doeu. aprendi que partidas sempre irão doer, mesmo que a pessoa que você esteja deixando não mereça a sua permanência.

doeu porque eu senti muito. e não, eu não me arrependo. eu sou assim e sempre serei assim. amante dolorida. doeu porque tudo o que vivo é real. doeu porque dentro de mim reside a alma de um poeta de oitocentos anos.

e vai doer, até não doer mais. até o dia em que eu parar de correr e encontrar um horizonte vermelho alaranjado, iluminado pela luz do último sol de um verão qualquer.

eu vou me lembrar de você. como quem olha uma chaga e sabe muito bem como se feriu e porquê se feriu. mas não vai doer mais.

e quando esse dia chegar, você estará do outro lado do mundo, vivendo essas suas verdades e mentiras de garoto imaturo. ou não. talvez até lá você cresça metade do que eu cresci. talvez você seja feliz, verdadeiramente. do jeito que eu quis que fôssemos. ou talvez você estará do outro lado do mundo, sentado sozinho na sua cama, imaginando pra onde eu fui. tentando entender como eu recolhi todos os cacos depois da queda. pensando se vivo, se amo, se sou feliz. repassando na sua cabeça todas as nossas memórias, o meu sorriso tímido e todos os nosso diálogos. talvez você sinta a culpa pesar sobre os ombros quando perceber que eu sempre estive ali, na minha mais pura e honesta forma. talvez você chore ao se lembrar de todo o sofrimento que você causou a alguém que só queria o seu bem. talvez você sorria, porque eu sei que apesar de tudo, nós vivemos coisas muito bonitas. e pra ser sincera, eu espero que você sorria.

hoje eu não sei se te perdoo. enquanto corro, não dá pra pensar muito. enquanto cresço e amadureço às vezes te perdoo, noutro dia não sei. a cabeça vive embaralhada demais.

mas quando eu finalmente chegar no lado oposto da Terra ao seu, saiba que eu me lembrarei de você. e não sentirei um resquício de dor. e eu cantarei o perdão a você e a mim mesma aos quatro cantos da Terra. e será só eu comigo mesma. e eu serei completamente minha, e completamente feliz.

eu espero que você seja feliz também.

às vezes eu me pergunto, assim, mentalmente: o que levaste tu a me trair?

somos livres. poderias tu ter o que quiseres. bastava tu me deixares ir. bastava só uma palavra, um aviso. vou-me embora, tu terias me ouvido falar. com o coração pesado e triste, como quem carregarias uma mala pesada sozinha, mas vou-me embora. seja tu livre que eu serei livre também. fique tu com quem desejas, se ela te faz mais feliz pois que assim seja.

mas não, tu me deixaste na plateia. me fizestes assistir. por isso hoje não sei o que sinto. se me perguntares, oh, é tudo um grande nada no meu peito.

não sobrara nada. tu me fizestes triste. mas forte sempre fui, sei do valor que tenho. e só por isso, oh, só por isso não pulei do precipício. sou firme na queda. a vida nunca me foi fácil, homem.

às vezes eu te amaldiçoo, isso não se faz a ninguém não. não se faz não. ir embora sem nadas a dizer. ir embora e largar tuas imundices de traições e mentiras. tu não olhaste pra trás, tu não olhaste em meus olhos.

tu dizias estar apaixonado por mim, eu boba acreditei. tu fois covarde, isso que tu fois. te dei o melhor, pior de mim. tu me destes momentos tão felizes e por isso mesmo bateria em quem disseste que estavas a me trair.

mas estavas, não é? todo o tempo, todo o tempo.

vou-me embora. por isso vou-me embora. e por favor, não me procures mais, nunca mais. que de mim não sobrara nada, não pra você. não pra você.

esses dias eu chorei no chuveiro. lembrei dos nossos banhos. te ensaboei tantas vezes, e te beijei em todas mesmo com gosto de sabão. éramos duas crianças felizes até os risos cessarem e você me levar pra cama. a gente se enxugava nos lençóis e adormecíamos debruçados um sobre o outro.

é sempre no chuveiro que eu me lembro dos nossos momentos felizes e não entendo certas coisas. é sempre no chuveiro que eu choro. e pelo ralo deixo ir cada dia um pouco mais de você. um pouco mais de nós.

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