#my text

LIVE

Poucos dias se passaram desde que deixei o conforto da cidade e de meus amigos. Como uma chuva de verão que vem e vai sem aviso, fui embora sem antes me despedir. Amigos, colegas, amores, tudo está para trás agora. Você deve estar pensando que eu sou um babaca, que não me importo com os sentimentos dos outros, talvez até que sinto prazer com isso. Mas não.

Faz pouco mais de uma semana desde que saí e sinto como se a saudade fosse esmagar meu peito, cedo ou tarde. A melancolia que sinto durante o dia não é nada comparada com a solidão da noite. Sobreviver é a única coisa que me mantém são nessas horas.

Às vezes eu olho para os céus e me pergunto por quê. Me pergunto se existe um motivo para fazer o que estou fazendo, se esse sofrimento é realmente necessário. Fecho meus olhos para as estrelas, tentando sentir uma resposta do universo, uma vibração, um som, um mínimo de vento no rosto que me diria “sim” ou “não”, literalmente qualquer coisa. Mas tudo o que sinto é ansiedade e medo de ter feito a coisa errada.

Desde que comecei a entender minha jornada nessa vida, muita coisa mudou dentro de mim. Quando você muda, você incomoda. Seus familiares brigam e te questionam o que está acontecendo, mas você não sabe dizer pois você não se sente estranho. Seus amigos te julgam e te excluem, te tratando com completa indiferença e desdém, mas você não entende o por quê. Seu amor te estranha e se afasta, até que um dia, com o olhar carregado da maior tristeza do mundo, te diz “eu já não te conheço mais”, e seu mundo desmorona.

Nessa hora, todas as boas lembranças que você tem dessas pessoas, todos os momentos divertidos que vocês passaram juntos, tudo se torna dor. Lembrar torna-se apenas mais um sofrimento, uma nova pergunta autodestrutiva para a lista já nada gentil. Enquanto o tempo passa, toda a parte boa é lentamente corrompida pela ínfima, porém intensa, parte ruim do final, até que não sobra nada. Não há mais boas lembranças dessas pessoas que você amou.

Minha jornada ainda é longa e por isso devo partir agora, enquanto nossas lembranças uns dos outros ainda são calorosas e valiosas. Talvez eu seja egoísta em querer ter só boas lembranças de vocês comigo, mas não posso deixar que o ciclo se repita. Deixo com vocês um grande pedaço de mim e levo comigo um pedaço de cada um de vocês. Busco por algo que ainda não compreendo, um propósito que desconheço, e que só eu saberei o que é quando encontrar. Mas saibam que as lembranças que levo de vocês servirão como lamparinas que iluminarão o meu caminho escuro. Isso não é um adeus, apenas um até logo, até que nossos destinos decidam se encontrar mais uma vez.

Pois essa é a minha jornada. Essa é a minha eterna peregrinação.



The Everlasting Pilgrim
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