#my text

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Estadia


Saiba dizer “Oi” para o Amor quando ele chegar. Receba-o bem, aproveite a sua estadia, mas não espere que ele fique.

E se o dia chegar, saiba dizer “Tchau” para o Amor. Deixe-o ir. Não espere que retorne.

Logo, um novo Amor chegará. E quando acontecer, saiba dizer “Oi, Amor, seja bem-vindo”.



OrenZ


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Cartas para mim: eu te odeio


Eu te odeio. Eu sei que admitir isso me trará todas as energias negativas que definitivamente não preciso, mas eu simplesmente não ligo mais. Dizer em alto e bom tom que eu te odeio é de aliviar a alma. Eu te odeio, serpente-marinha.

Eu te odeio porque eu realmente não consigo me recordar da última vez em que eu estive tão infeliz, tão deprimido e tão vulnerável. Eu estou instável, meus ataques de ansiedade voltaram, meu humor oscila constantemente e eu não consigo ter controle sobre mim. Esses pensamentos me dominam sem aviso prévio, e eu começo a sentir medo de que isso seja o meu verdadeiro eu.

Eu te odeio, serpente-marinha, porque você brincou comigo. Você sempre tinha que estar certa, e então você me dizia como eu era o incoerente, o hipócrita, como eu era “igual a todos os outros”, mas na verdade eu nunca estive errado. 

Eu te odeio porque você me fez acreditar que eu podia confiar em você. Você veio atrás de mim, quebrou todas as minhas barreiras, desarmou todos os meus alarmes e finalmente conseguiu o que queria. Eu te mostrei o meu mundo escondido, o meu “eu” mais íntimo e profundo do meu ser, e então você desapareceu. 

Eu odeio como você me manipulou com suas palavras doces, suas promessas vazias e suas chantagens emocionais. Eu odeio ter caído em seu jogo, mesmo tendo recebido diversos sinais. Eu odeio como a sua mera lembrança é o suficiente para estragar o meu dia. Eu odeio que você não está aí para isso e odeio admitir que você nunca nem esteve.

Tudo piorou depois que eu te conheci, e é por isso que eu te odeio. Porque, antes de você eu não me sentia tão solitário, nem tão ansioso, nem tão menos que os outros.  Antes de você eu não precisava duvidar das minhas atitudes, nem do meu jeito, nem da minha aparência. Antes de você, eu e meu vazio estávamos em paz, e agora eu luto contra ele todos os dias sem parar.

Eu te odeio, serpente-marinha, porque você trouxe de volta para mim tudo aquilo que eu lutei anos e anos para superar.


OrenZ

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Três da manhã, meus olhos despertam. Não demora muito para que eu perceba qual sentimento me acordou nesta madrugada. Cansado, eu procuro meu celular na esperança de ter recebido alguma mensagem.

…Nada.

Eu guardo meu celular e me viro para o outro lado. Observo as luzes alaranjadas do meu pisca-pisca enquanto eu me envolto num casulo de cobertas. Não é uma madrugada fria, mas eu preciso de algum conforto, preciso que algo abrace o meu corpo.

A solidão do meu despertar é avassaladora.

Montanhas-russas


Eu nunca gostei de montanhas-russas. Quando eu era pequeno, passei pela experiência de andar em uma montanha-russa infantil. Chorei, chorei até soluçar. Alguns anos depois, na adolescência, decidi experimentar mais uma vez, afinal de contas eu cresci, e o meu medo poderia ser mesmo só uma coisa de criança.

Aos quinze anos, sentado no primeiro vagão, as travas de segurança do brinquedo descem e eu percebo que me encontro sozinho. A comitiva começa a se mover, agora é impossível desistir. As engrenagens dos trilhos estalam enquanto trabalham para nos empurrar para cima. O passeio é agradável, mas a altura me assusta. E se alguma coisa der errado? Não há nada que eu possa fazer. Eu fecho meus olhos e torço para que tudo dê certo.

Logo os estalos cessam. Uma calmaria gentil toca o meu peito e meus olhos se abrem. Pequenos pontos luminosos brilham e decoram os céus crepusculares daquele fim de tarde. Do topo da montanha-russa, o ar é fresco e o horizonte é infinito. Mas os trilhos voltam a estalar suas engrenagens.

O desespero toma conta de mim, eu ainda não estou pronto para a descida. Eu olho para cima e jogo meus braços ao alto tentando agarrar aquele último pedaço de céu estrelado, mas a descida ao inferno já começou. E então eu grito, grito de raiva, grito de medo, grito de angústia. Grito da descida repentina, das viradas em trancos abruptos, dos loopings e suas reviravoltas indesejadas e, principalmente, das incertezas do que poderá vir a seguir. Eu grito tudo o que eu posso até que não tenha mais ar em meus pulmões para isso. E então eu choro, choro até soluçar.

Eu nunca gostei de montanhas-russas, e mesmo assim eu não consigo escapar delas. Quando olho para os seus olhos, vejo novamente as estrelas iluminando o horizonte infinito. Eu sei que logo a descida vai chegar, porque esta é uma montanha russa. Sei que logo os trancos vão me fazer chorar, e não há nada que eu possa fazer.

Eu sei que eu não quero parar de vislumbrar esses seus céus acastanhados, mas eu sei que eu não quero mais andar em montanhas-russas.


OrenZ


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