#padrãodebeleza

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O corpo muda
o estômago não ronca e o apetite evapora
nas longas horas sem comer
o corpo emagrece
a barriga diminui, as coxas ficam finas
as maçãs do rosto se atenuam
o corpo muda
o cabelo cai e a unha quebra
as articulações doem
olheiras profundas, a pele oleosa
o olho vermelho das noites sem dormir
o corpo muda
as espinhas nascem
o vão entre as coxas, aumenta
a barriga diminui ainda mais
um, dois, três números a menos
uma mente doente, quem diria?
o corpo até parece daquelas modelos
o corpo sem estrias, sem celulite
sem vitaminas, sem vida
o corpo muda
o cabelo fica ralo
e as unhas na carne porque não conseguem crescer
as unhas na carne, e a pele oleosa
nem meio litro de água por dia
mais perto da morte que da vida
aparência é tudo.
cheio de elogios, o corpo ainda segue
usando 40, mesmo desenvolvendo anemia
isso nem é um caso de anorexia
um corpo doente, mas magro
e a depressão come solta
pelo menos alguém está comendo
aqui embaixo ninguém está vivendo
um corpo que passa os dias na cama
e a coluna começa a sentir um desconforto
o estômago não ronca
e a barriga agora está lisa
pelo menos alguém elogia
o corpo sem estrias
mais morta do que viva
a pele pede socorro
e os cabelos quebram na frente da escova
as frutas apodrecem na fruteira
a comida se empilha na geladeira
um pulmão que só recebe fumaça de cigarro
e o estômago que se abraça desolado
o coração chega a ter taquicardia
o corpo muda
e vai definhando pelos dias
sem coragem de ir na terapia
e a mente, no crânio, se atrofia
quem se importa com saúde mental
quando é o peso que se elogia?
o corpo muda
murcha com o passar das horas
a flor podre encolhida na cama
mais um número a menos
“como você tá linda”
“vão entre as coxas e cadê essa barriga?
“me conta seu segredo, amiga?”
as costas doem, as articulações pedem socorro
pelo menos alguém consegue pedir ajuda
agora o corpo na casa do 38
e a pele que mal lembra como é
sentir a luz do dia
vitamina D, serotonina
o corpo muda
agora, só existe
a pele pálida, e as olheiras profundas
três horas de sono
não vão te fazer maravilhas
o desleixo é quase palpável
quem consegue tomar um banho
quando apenas se quer morrer?
os dentes amarelados
e o cabelo oleoso, amarrado em um coque
por incontáveis dias
o corpo muda
agora só quer ajuda
a mente não aguenta mais
“segurem-se todos, nós vamos afundar”
e mais uma crise na semana
o cérebro já falha em fazer conexões químicas
a depressão dança ao lado da ansiedade
e o espelho no quarto reflete apenas a visão da morte
o estômago recebe comidas gordurosas:
massas, queijos, doces…
nada que vá saciar por muito tempo
a decepção dos órgãos é evidente
um corpo magro, mas a mente doente
o corpo muda,
as cicatrizes que o diga.

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