#poetiza

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No se me antojan ni geranios, ni gardenias,
ni pequeños y exuberantes tulipanes;

En la noche de mi funeral quiero el agua
del mar donde me encontré y me perdí,
Quiero, entre mis manos, las babosas negras
que se colaban en la vieja casa,
Anhelo esa tierra empapada de cielo
cubriendo mi rostro derrotado,
Deseo los restos de excrementos
de los animalillos muertos entre mis dedos
como finos anillos de novia traicionada.

Porque quiero ser piedra, raíz,
habitante ciego de esta tierra insípida
¡quiero volverme semilla!
Y quiero ser el geranio la gardenia
el pequeño y exuberante tulipán.

Dejar de ser este cuerpo:
ser flor con tallo negro de un jardín marchito
bajo el ojo luminoso de la muerte,
respirando las esporas de una luna de sangre,
que envenene todo, que destruya todo.


Que termine de germinar las cenizas de esta herida tan humana
que sufro y cargo desde hace tanto doloroso tiempo.

-Necro Hoffmann

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Este grave daño que me da la vida
Es un dulce daño, porque la partida
Que debe alejarme de la misma vida
Más cerca tendré.

Yo llevo las manos brotadas de rosas,
Pero están libando tantas mariposas
Que cuando por secas se acaben mis rosas
Ay, me secaré.

No tienes tú la culpa si en tus manos
mi amor se deshojó como una rosa:
Vendrá la primavera y habrá flores…
El tronco seco dará nuevas hojas.

Las lágrimas vertidas se harán perlas
de un collar nuevo; romperá la sombra
un sol precioso que dará a las venas
la savia fresca, loca y bullidora.

Tú seguirás tu ruta; yo la mía
y ambos, libertos, como mariposas
perderemos el polen de las alas
y hallaremos más polen en la flora.

Las palabras se secan como ríos
y los besos se secan como rosas,
pero por cada muerte siete vidas
buscan los labios demandando aurora.

Mas… ¿lo que fue? ¡Jamás se recupera!
¡Y toda primavera que se esboza
es un cadáver más que adquiere vida
y es un capullo más que se deshoja!

O corpo muda
o estômago não ronca e o apetite evapora
nas longas horas sem comer
o corpo emagrece
a barriga diminui, as coxas ficam finas
as maçãs do rosto se atenuam
o corpo muda
o cabelo cai e a unha quebra
as articulações doem
olheiras profundas, a pele oleosa
o olho vermelho das noites sem dormir
o corpo muda
as espinhas nascem
o vão entre as coxas, aumenta
a barriga diminui ainda mais
um, dois, três números a menos
uma mente doente, quem diria?
o corpo até parece daquelas modelos
o corpo sem estrias, sem celulite
sem vitaminas, sem vida
o corpo muda
o cabelo fica ralo
e as unhas na carne porque não conseguem crescer
as unhas na carne, e a pele oleosa
nem meio litro de água por dia
mais perto da morte que da vida
aparência é tudo.
cheio de elogios, o corpo ainda segue
usando 40, mesmo desenvolvendo anemia
isso nem é um caso de anorexia
um corpo doente, mas magro
e a depressão come solta
pelo menos alguém está comendo
aqui embaixo ninguém está vivendo
um corpo que passa os dias na cama
e a coluna começa a sentir um desconforto
o estômago não ronca
e a barriga agora está lisa
pelo menos alguém elogia
o corpo sem estrias
mais morta do que viva
a pele pede socorro
e os cabelos quebram na frente da escova
as frutas apodrecem na fruteira
a comida se empilha na geladeira
um pulmão que só recebe fumaça de cigarro
e o estômago que se abraça desolado
o coração chega a ter taquicardia
o corpo muda
e vai definhando pelos dias
sem coragem de ir na terapia
e a mente, no crânio, se atrofia
quem se importa com saúde mental
quando é o peso que se elogia?
o corpo muda
murcha com o passar das horas
a flor podre encolhida na cama
mais um número a menos
“como você tá linda”
“vão entre as coxas e cadê essa barriga?
“me conta seu segredo, amiga?”
as costas doem, as articulações pedem socorro
pelo menos alguém consegue pedir ajuda
agora o corpo na casa do 38
e a pele que mal lembra como é
sentir a luz do dia
vitamina D, serotonina
o corpo muda
agora, só existe
a pele pálida, e as olheiras profundas
três horas de sono
não vão te fazer maravilhas
o desleixo é quase palpável
quem consegue tomar um banho
quando apenas se quer morrer?
os dentes amarelados
e o cabelo oleoso, amarrado em um coque
por incontáveis dias
o corpo muda
agora só quer ajuda
a mente não aguenta mais
“segurem-se todos, nós vamos afundar”
e mais uma crise na semana
o cérebro já falha em fazer conexões químicas
a depressão dança ao lado da ansiedade
e o espelho no quarto reflete apenas a visão da morte
o estômago recebe comidas gordurosas:
massas, queijos, doces…
nada que vá saciar por muito tempo
a decepção dos órgãos é evidente
um corpo magro, mas a mente doente
o corpo muda,
as cicatrizes que o diga.

Passei esses dias na cama, e você já sabe o motivo;
fumei uns dois maços por dia, e
bebi um vinho velho que estava na geladeira
comi mal, não bebi água
vi vídeos inúteis no youtube e ignorei ligações
no vácuo de mim mesma,
no vazio gigantesco de meu universo,
retornei à gênese dos planetas
sendo compostos pelo pó das estrelas.
Não há luz emanando de mim,
apenas um resquício da radiação
de uma explosão cósmica, vinda direto
do universo.

Deitada na cama,
perdendo toda noção de gravidade em mim
deixando os pensamentos flutuarem para longe:
eu sou pó das estrelas, e existe um buraco negro, em mim.
Sugando toda luz ao seu redor, a leve luz que viaja pelo espaço
e denso, destrói tudo que encontra, sendo visível justamente por não ser,
sendo incrivelmente belo a distância
a incrível trágica beleza, de tudo que simboliza um fim.

Me desfiz em poesia.

Me refaço em antimatéria.
Me refaço em explosões atômicas
em cada esquina.

Não nasci para rimar.

Nessa hora, o cérebro muda sua química
e abaixa a taxa de serotonina,
vitamina D e endorfina.
Brutalmente, o cérebro se contorce
feito um bicho vivo na panela fervente.
e minha pele é uma roupa apertada
que eu me vejo obrigada a usar,
desconfortável demais para me mover,
justa demais para respirar.

De uma explosão cósmica,
eu sou pó das estrelas.
Me refaço agora, apenas para desfazer no final,
explodir dentro de mim mesma,
uma pequena prova viva da teoria do Caos:
um sistema dinâmico e complexo
instável na evolução temporal.

Tudo se desfaz…

Minhas inseguranças se entalam na garganta,
enquanto grito, tentando recuperar de volta minha autoestima
essa coisa de amar-se por completo é tão difícil
e agora qualquer suspiro é bem vindo.
Quero recuperar o fôlego,
o hoje é só mais uma volta que a Terra deu sem si mesma
quero fechar os olhos, descansar as retinas.
Um último suspiro antes da colisão final
na matéria mais densa, localizada em meu centro
nenhum som se propaga no vácuo,
de encontro ao meu buraco negro,
eu flutuo em meu espaço.

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