#foipoeta

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e foi justamente você, quem mais dizia ser a exceção,

que fez de si o manual ambulante com todas as regras de “eu sou filho da puta” inseridas.

— o maior problema foi que dessa vez eu havia confiado…

se sentir enganado, traído, diminuído, quando por muito tempo te fizeram acreditar que era importante, que sua voz era ouvida, que suas conversas eram interessantes para ambos. se sentir como uma criança que fora iludida por alguém que realmente admirava mas que não era de fato alguém admirável. sentir que fora enganada por esperar algo grande e receber em troca somente os mesmos diálogos e sorrisos de desdém e olhares que te subestimam.

estou cansada. eu não quero mais esse olhar que desencoraja. eu não quero esse comentário sarcástico. eu não quero atitudes egoístas. eu não quero fingir que esse ambiente não me afeta.

porque eu me sinto sufocando.

vic morgenstern

sabe o que eu acho? escritores são os mais sádicos dos seres humanos.

eles me mostram algo que eu nem sequer imaginava que queria tanto. eles criam essas histórias e essas pessoas tão encantadoras. eles fazem com que eu me apaixone. eu me apaixono por uma droga de uma mentira.

porque aqui, no mundo real, no mundo não inventado por mentes tão brilhantes e psicopatas, nesse mundo fútil e mesquinho, as pessoas não são arte. as pessoas não dão a mínima para você. as pessoas não enxergam as entrelinhas, não pensam fora do padrão. não existe autonomia. não existe singularidade, humanidade, fatalidade.

eu não nasci para ser uma pessoa real. eu não devia estar aqui. eu devia ser uma história.

eu vou viver para sempre incompleta.

vic morg.

algo falta em mim. eu não sei o que é, mas eu sei que está faltando. eu sei disso porque sua ausência me dói até os ossos. sinto que tudo o que eu vivo, eu não vivo completamente. me falta algo. ou talvez não me falte algo.

me falta alguém.

— como encontrar o que você quer tanto tanto tanto mas não faz ideia do que seja?

v.m.

se você ama algo

realmente ama

se quer mantê-lo íntegro

se quer continuar com isto por muito tempo

se te faz bem

se te traz ótimas sensações

se te deixa realmente, realmente feliz

então nunca

em hipótese alguma

mostre a alguém.

— as pessoas são sedentas pelo que não as pertence.

v.m.

é verdadeiro: quem fala o que quer, ouve o que não quer.

falar demais te fará ouvir demais. se não quer se decepcionar, fale o mínimo. use os olhos, não a boca.

observar em vez de tagarelar te mostrará muita coisa que antes passava despercebido.

vai acontecer de você ter opinião formada sobre a maioria das coisas. e isso não está errado. mas as pessoas também têm a própria opinião. e elas raramente se abrem para ouvir opiniões contrárias.

evite o estresse da discussão. geralmente só te dá uma coisa: dor de cabeça. poucas são as vezes que termina em um humilde acerto de contas.

não se dê problemas desnecessários.

o melhor jeito de lidar com pessoas desagradáveis é aquela mesma velha receita: ignorando-as.

seu espírito leve é a melhor sensação que você pode ter. você é muito interessante e intelectualmente madura para se equiparar a pessoas tão fechadas.

vai por mim, foque na sua paz de espírito. é ela quem vai te fazer dormir bem à noite, quem vai te fazer viver bem de dia.

a pessoa que te tirou essa paz? não vai nem lembrar teu nome.

você é muito melhor do que isso. por que insistir nesse desprazer desnecessário?

v.m.

eu vivi por tanto tempo

aquela desesperadora sensação familiar

de estar perdido, desorientado, sem perspectiva

e pensei que nada fazia sentido

minha vida era inútil, desprezível, vazia

eu não via saída senão acabar logo com ela

pra quê extender um sofrimento que já parece infinito?

por mais quanto tempo prolongar a eternidade?

a vida um dia acaba, afinal

que mal tem adiantar o processo?

mas não dá pra simplesmente planejar o futuro

não importa o quão organizada seja sua agenda

as coisas simplesmente acontecem desgovernadamente

não existe condutor, não há quem controle o universo

ele só vai lá e faz, e você só vai lá e aceita

e é por esses planejamentos que não deram certo

e não planejamentos que deram certo

que tudo mudou, a vida, as perspectivas, os vazios

as preocupações que duraram anos já não fazem mais sentido

e novas preocupações que eu não imaginava que poderiam existir hoje me consomem

e a metamorfose acontece

sempre acontecerá

a beleza da vida, no fim

é estar disposto à vivê-la.

olá, sou eu. de novo.

faz tanto tempo desde a última vez, não é? eu até me esqueci de você… por um tempinho.

fiz coisas normais que pessoas livres fazem. conheci pessoas novas. criei novos sonhos. eu até sorri algumas vezes. foram tempos de calmaria, sabe?

mas, claro, nada dura. minha paz não durou. você retornou, como eu sabia que aconteceria. só que dessa vez eu me deixei levar pelo momento, sabe? eu me deixei mesmo acreditar que havia te superado. uau, eu estava tão confiante.

mas aí você apareceu ontem à noite. nos meus sonhos. há tanto tempo você não me fazia uma visita dessas. sua ausência já nem era mais sentida.

mas bastou você reaparecer, como se soubesse que estava caindo no esquecimento. como se quisesse se certificar de que não me deixaria vencer assim tão fácil.

você voltou. e é como se nunca tivesse ido. você apareceu e no momento em que te vi de novo eu senti algo dentro de mim como nunca havia sentido antes. como… tortura?

eu perdi a fé, você se certificou disso também. quando voltou a me atormentar, você se certificou de me trazer de volta o sofrimento.

a dor da perda é sufocante, sabia? você mal consegue respirar.

e não importa quantas pessoas te digam que passa com o tempo. é ilusão. você foi embora há anos, afinal, mas o vazio que você deixou continua aqui. não muda. não desaparece. pode até parecer que tudo se acalmou, como pareceu por um tempinho, mas basta uma lembrança. uma única fagulha de memória. e tudo se incendeia novamente.

e queima. e arde.

tortura. isso foi o que você deixou.

e mesmo depois de tanto tempo, depois de tantas pessoas, de tantos momentos sem você. você continua aqui. tão presente como se tivesse ido hoje. tão devastador como se meu coração tivesse sido destroçado há poucos minutos.

eu sofro de uma eterna abstinência de você. eu não consigo parar. eu não consigo esquecer.

eu não sei mais o que fazer para você finalmente ir.

v.m.

eu quero deixar as coisas fluírem mas não consigo

eu me sinto trancada por me privar tanto

eu quero liberdade mas não assino minha alforria

eu sou prisioneira da minha insegurança.

v.m.

como desfaz essa vontade de querer escrever mas não conseguir formular uma frase sequer?

eu te amo

e é porque te amo tanto

que preciso me afastar de ti

pois tanto amor assim

deveria ser direcionado

a mim.

não lembro em que momento deixei de ser protagonista da minha própria vida.

vic morg.

Eu vejo seu olhar de desespero

tentando ser disfarçado

toda vez que se dirige a mim

e me pergunto como você lida

com a solidão

quando sei que suas mãos imploram

para sentir de novo

o calor da minha pele.

— Meu estômago ainda se agita quando eu te vejo, mas aprendi a aceitar que algumas distâncias são importantes para preservar o coração.

vic morg.

— o que ela foi?

— ah, meu caro. essa daí causou e absorveu mais sentimentos do que um coração humano é capaz de suportar. inchou e explodiu. derramou sua essência em todos que conheceu. ajudou aqueles que, assim como ela, carregam tanta intensidade. segurou forte a mão dos que pensaram em desistir, e por isso vivia com as próprias mãos entrelaçadas. salvou almas solitárias, incluindo a dela. cicatrizou feridas letais, estancou sangramentos intensos. amou, profundamente, o que fazia. mesmo que não fosse perfeito. mesmo que, às vezes, sentisse ser perda de tempo. ainda assim, se conseguisse ajudar uma única pessoa, sabia, então, que o que quer que estivesse fazendo, estava no caminho certo.

— então ela foi médica?

— melhor — sorriu — foi poeta.

você sabe, meu bem

no fim

éramos asteróides

intensos e imparáveis

e quando colidimos

nos destruímos.

— fatalidade.

vic morg.

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