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Quando criança, eu tentei me convencer de que não era real, hoje eu enxergo a verdade. Sou o tipo de pessoa que se sumisse ninguém sentiria falta, e desta forma eu vou desaparecendo, uma vida tão trivial quanto um raio de luz.

Não podemos mudar o que fomos e tudo o que aconteceu, mas eu espero que um dia você possa olhar para trás e ver o quanto eu me esforcei para estar com você. Até mesmo no dia em que você me abandonou sem mais nem menos.

Dentro de mim há um pequeno menino que chora todos os dias por se sentir sozinho, e eu tenho de alimentá-lo com a esperança de que isso vai mudar algum dia. Mesmo sabendo que não vai.

As vezes, você confere o celular jurando que alguém mandou mensagem sentindo sua falta, e quando finalmente você o abre. Vê que não passou de uma mera vontade de significar alguma coisa para alguém.

Naquela noite, você me disse que eu era incrível, mas, se eu sou, por quê você não ficou comigo?

Da próxima vez em que isso acontecer, eu não terei mais coração. Hoje eu vejo que dói amar, mais do quê ter razão.

Quem dera se eu pudesse ter visto além, para enxergar que não seríamos nada além de meras lembranças para o outro, e pensar que agora poderíamos estar juntos como no ano passado. Na noite do dia 24 de Dezembro, quem dera se você não tivesse tomado a decisão que te tirou de mim.

Você não é minha luz no fim do túnel, você é a luz que me ilumina, a luz que me trouxe vida.

Independente de tudo o que aconteceu desejo o melhor do mundo para você, espero que esteja sendo bem feliz. Foi o que você me disse que queria ser quando partiu.

Eu não sei onde estava com a cabeça quando achei que alguém como você gostaria de alguém como eu.

O que não é percebido é que cada ser é um MUNDO e cada um carrega sua dor como pode.

Muita coisa ruim corre no sangue de minhas veias, tenho medo de ter herdado o temperamento podre de meu pai.

Talvez amanhã eu acorde melhor, e se não, e daí? Só tenho a mim mesmo e irei me curar sozinho, como todas as vezes.

Eu não quero produzir apenas quando eu estou mal. Quando estou deprimida, para baixo, em crise, prestes a arrancar os cabelos, a cortar a pele apenas para sentir algo.

Como se talento, criação e sofrimento fossem a mesma coisa.

Talvez a arte seja uma forma de se fazer ouvido, de traduzir as inquietações e o cérebro que se contorce, para o papel. Verdade é que Van Gogh não era talentoso porque cortou a porra da orelha fora e depressão e transtornos mentais não ajudam tanto na arte como se diz por aí.

Honestamente, quando menos produzi foi quando estive pior. É difícil criar uma obra de arte estando na cama, talvez Frida Kahlo tenha conseguido, mas honestamente, eu não estou nesse nível ainda.

As pessoas não sabem do que falam. As pessoas romantizam cada coisa…

Eu não quero acreditar que escrevo bem apenas quando quero morrer, e a arte seja um balde onde vomito tudo aquilo que não me faz bem, a privada do banheiro da balada onde você coloca pra fora todo o exagero do resto da noite, sem pensar, sem refletir, sem criar por querer fazer algo que valha a pena.

Bom, eu já passei dessa fase. Não quero arrancar os cabelos, ou morrer, ou sequer ficar na cama. Não quero perpetuar a ideia de um comichão no espírito pelo bem maior.  Não existe bem maior na doença. A arte está do lado oposto.

A verdade é que Van Gogh criou coisas incríveis apesar de seus demônios, não por causa deles, não vamos dar tanto crédito assim para a dor. Quando estive internada, meu psiquiatra me falou para canalizar essa dor em algo criativo, algo produtivo, e isso me ajudou, é verdade, mas não é esse motivo pelo qual eu estou aqui ainda.

Esse não é o motivo pelo qual escrevo.

As ideias não brotam da terra infértil que é a depressão, as ideias lá, costumam morrer, antes mesmo de suas raízes se espalharem por debaixo da terra. Criar tem algo como derramar parte de nós em algo tangível, palpável, imortalizado no texto, na pintura, na música. Transferir-se para algo material, até que o outro possa olhar e então não é mais nosso, e há uma beleza nisso.

Acredito nessa beleza, acredito nesse processo, lento, que cozinha na mente até pingar no papel. Todo o resto é besteira.

Todo o resto é a orelha de Van Gogh que foi cortada como um sacrifício para algum demônio da arte. E aqui, eu reviro os olhos, aqui eu saio do recinto. Eu não quero me sacrificar mais, eu já tentei e só ganhei uma internação e acompanhamento psiquiátrico.

A arte é mais que isso. Eu quero ser mais que isso, ainda que meus textos e histórias não sejam felizes, ainda que minha mente crie as piores histórias, ela está em paz e é por isso, que as histórias transfiguraram-se em palavras num texto.

aquele foi o beijo mais selvagem da noite

parecíamos dois leões
disputando quem seria
o macho alfa do território

todos assistiam
como se fossemos
um espetáculo
da natureza

éramos ferozes, vorazes
com adrenalina à flor da pele
entorpecidos pelo calor do momento

entre beijos e mordidas
sabíamos responder
cada movimento, cada gesto
um do outro
com um contra golpe perfeito

de olhos fechados
só queríamos
tirar proveito de tudo
do espaço físico
do toque forte
dos lábios ardentes

atacávamos como leões
mas no fim
não houve vencedor

porque nem um
nem outro
lembra da selvageria

mas quem viu
admirou
a(o) tensão no ar.

[romances de garoto]

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