#projetoflorida

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Desentendimento mental

Estou cada vez mais distante de você

Tudo que minha mente fala parece fútil

Eu não tenho seus olhos

E nem sua magnífica didática

Existe um bloqueio mental em mim

Estou sempre me comparando a você

Tudo é sobre como vou superá-la

Nunca pensei que iria dizer isso

Mas é possível viver sobre sua sombra?

The Nites

Eu não quero produzir apenas quando eu estou mal. Quando estou deprimida, para baixo, em crise, prestes a arrancar os cabelos, a cortar a pele apenas para sentir algo.

Como se talento, criação e sofrimento fossem a mesma coisa.

Talvez a arte seja uma forma de se fazer ouvido, de traduzir as inquietações e o cérebro que se contorce, para o papel. Verdade é que Van Gogh não era talentoso porque cortou a porra da orelha fora e depressão e transtornos mentais não ajudam tanto na arte como se diz por aí.

Honestamente, quando menos produzi foi quando estive pior. É difícil criar uma obra de arte estando na cama, talvez Frida Kahlo tenha conseguido, mas honestamente, eu não estou nesse nível ainda.

As pessoas não sabem do que falam. As pessoas romantizam cada coisa…

Eu não quero acreditar que escrevo bem apenas quando quero morrer, e a arte seja um balde onde vomito tudo aquilo que não me faz bem, a privada do banheiro da balada onde você coloca pra fora todo o exagero do resto da noite, sem pensar, sem refletir, sem criar por querer fazer algo que valha a pena.

Bom, eu já passei dessa fase. Não quero arrancar os cabelos, ou morrer, ou sequer ficar na cama. Não quero perpetuar a ideia de um comichão no espírito pelo bem maior.  Não existe bem maior na doença. A arte está do lado oposto.

A verdade é que Van Gogh criou coisas incríveis apesar de seus demônios, não por causa deles, não vamos dar tanto crédito assim para a dor. Quando estive internada, meu psiquiatra me falou para canalizar essa dor em algo criativo, algo produtivo, e isso me ajudou, é verdade, mas não é esse motivo pelo qual eu estou aqui ainda.

Esse não é o motivo pelo qual escrevo.

As ideias não brotam da terra infértil que é a depressão, as ideias lá, costumam morrer, antes mesmo de suas raízes se espalharem por debaixo da terra. Criar tem algo como derramar parte de nós em algo tangível, palpável, imortalizado no texto, na pintura, na música. Transferir-se para algo material, até que o outro possa olhar e então não é mais nosso, e há uma beleza nisso.

Acredito nessa beleza, acredito nesse processo, lento, que cozinha na mente até pingar no papel. Todo o resto é besteira.

Todo o resto é a orelha de Van Gogh que foi cortada como um sacrifício para algum demônio da arte. E aqui, eu reviro os olhos, aqui eu saio do recinto. Eu não quero me sacrificar mais, eu já tentei e só ganhei uma internação e acompanhamento psiquiátrico.

A arte é mais que isso. Eu quero ser mais que isso, ainda que meus textos e histórias não sejam felizes, ainda que minha mente crie as piores histórias, ela está em paz e é por isso, que as histórias transfiguraram-se em palavras num texto.

Chego tarde da noite em casa, as luzes do meu prédio já estão quase todas apagadas, indicando que a maioria já foi dormir. Do portão do condomínio, consigo ver minha janela, com as luzes igualmente apagadas.

Ao fim do estacionamento, que está localizado no meio de dois prédios, existe um parquinho que está aí desde que me mudei para cá. Ele já é bem antigo, e as crianças não brincam nele mais. Suas cores amarelo e vermelha estão opacas e em vários cantos pode-se ver o ferrugem tomando conta. Um dos balanços está quebrado e pequeno escorregador segue por um fio. Eu me dirijo até ele, quando sinto que não quero entrar em casa. Quando sinto que não quero sentir o cheiro do meu espaço, e os móveis dispostos de certa forma. A casa vazia, as paredes sujas. Meu cheiro no meu quarto e a minha cama, que me espera para deitar.

Sento-me em um dos balaços que pode quebrar a qualquer momento, ainda mais com o peso de uma mulher adulta, mas dou de ombros. Às vezes eu tenho pavor de ficar sozinha, pavor de olhar minha casa e sentir que há espaço suficiente para pensar. Tenho pavor de dormir, por isso preciso de auxilio de um remédio. Fechar os olhos, com a cabeça deitada no travesseiro, faz com que lembranças inundem meu cérebro. De olhos fechados tudo parece mais intenso. As lamentações, o peso dos dias, minhas saudades. Eu continuo olhando para o espaço vazio ao meu lado. Eu não funciono bem sozinha. A solidão sempre grita alto demais para mim, não importa o quanto eu tape os ouvidos. Sentada no balanço, eu acendo um cigarro enquanto eu olho para a lua tão cheia e amarela, por entre as árvores. Eu penso que eu não quero subir as escadas. Sentada ali, me sinto confortável balançando, levemente, para frente e para trás.

Eu sou cheia de medos e inseguranças que quase se sobressaem na pele. Nesses momentos, sem ninguém a minha volta, eu assumo que sou frágil. Uma vez me disseram que eu não pareço insegura. Talvez pela forma que converso, talvez pela forma que me porto. Talvez seja as últimas fotos postadas nas rede sociais. Tudo para fingir bem. Me esconder bem. Tudo para não estar sozinha, sentada no velho parquinho do prédio.

Meu cigarro queima rápido demais e não demora a eu jogar a bituca no lixo. A vontade é acender outro. Eu estou fumando demais. Vivo sobre a ajuda de coisas externas. Antidepressivos, controladores de humor, indutores de sono. Cigarro para acordar, depois do café. Cigarro para pensar. Um calmante se eu tiver um crise, cigarros também para aguentar crises. Sexo se estiver me sentindo sozinha. Talvez uma balada. Eu não me basto. Café para acordar e curar a ressaca. Álcool para me divertir, talvez outras drogas, dependendo do tamanho do estrago. Tudo para tentar possuir por mais tempo uma felicidade que nunca foi minha por direito. Terceirizando os serviços que eu deveria fazer por mim mesma.

Tudo que vai contra ao que aprendi na terapia.

Me balanço um pouco mais forte, e o rangido das correntes começa a ecoar por todo o estacionamento. Agora, consigo sentir o vento contra meu rosto e meus cabelos esvoaçarem contra o impacto. Eu queria estar confortável dentro de mim, mas me sinto apertada dentro dessa pele que parece mais uma roupa justa demais. Não é questão de chorar mais, é uma questão de um entorpecimento a longo prazo. Agora estou indo mais rápido, eu quase me sinto tranquila. Quase não penso em mais nada. Quase… Agarrando essa frágil paz pelas mãos.

AH! MAR…


Uma onda de sonhos

Estoura na areia

Do meu despertar


Luz que me ilumina


Sol que me aquece


Brilho que bronzeia

Ao te ver chegar


Ah! Mar


Vívido por entre

As minhas conchas


Espumante

Lençol do meu amar


Parece que no céu

Da minha boca

Você se reflete


No mesmo élan…


MárciaMarko


https://sonhandopoesias.blogspot.com/2022/04/ah-mar-um-poema-de-marciamarko.html

COMO CHUVA…


Nuvens de saudades

Escureceram o nosso tempo


Senti uma gota do céu

Como chuva

A escorrer nos meus olhos


Trovoadas de emoções

No meu coração


Ah! Como é lindo

Este arco-íris no clarão


Quando eu vejo

O seu sol me iluminar


Aquecida com o seu amor

Que nessa chuva

Me faz sonhar…


MárciaMarko


https://sonhandopoesias.blogspot.com/2022/04/como-chuva-um-poema-de-marciamarko.html

ESTAÇÃO OUTONO


Paisagem cinzenta

Carregada de amor


Ventos gélidos

Que assobiam o seu nome


Mostrando que eu estou

No caminho certo


Estação outono


Folhas que caem

Das árvores

Vestígios

Que você passou

Por aqui


Ah! Meus passos se atrasaram

Tanto tempo esperaram


O seu agasalho

O seu cachecol em mim…


MárciaMarko


https://sonhandopoesias.blogspot.com/2022/04/estacao-outono-um-poema-de-marciamarko.html

ESTOU DISTRIBUINDO

Estou distribuindo

Abraços solidários

A minha cesta básica

Está repleta de amor

Tem muitos

beijinhos caridosos

Arroz de ternuras

Bolachas doces

Maria de paixão

Gestos missionários

Você é o contemplado

Para ganhar esta doação

Sem sorteio

Para me amar

Estou distribuindo

Vem buscar…

MárciaMarko

https://sonhandopoesias.blogspot.com/2022/06/estou-distribuindo-um-poema-de.html

OUTONO


Tempo de folhas secas

De cores que se espalham

Aos que verão


Tempo de cobrir a colheita

E derreter a geada

Que insiste atingir

O coração


Tempo de se encolher

Para a vida

Me envolver nos braços

Do seu calor


Ah! Tempo de cantarolar

Como um pássaro

Presa em mais um abraço

Estação do seu amor…


Outono…


MárciaMarko


https://sonhandopoesias.blogspot.com/2022/05/outono-um-poema-de-marciamarko.html

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