#projetodesconexos

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Eu não quero produzir apenas quando eu estou mal. Quando estou deprimida, para baixo, em crise, prestes a arrancar os cabelos, a cortar a pele apenas para sentir algo.

Como se talento, criação e sofrimento fossem a mesma coisa.

Talvez a arte seja uma forma de se fazer ouvido, de traduzir as inquietações e o cérebro que se contorce, para o papel. Verdade é que Van Gogh não era talentoso porque cortou a porra da orelha fora e depressão e transtornos mentais não ajudam tanto na arte como se diz por aí.

Honestamente, quando menos produzi foi quando estive pior. É difícil criar uma obra de arte estando na cama, talvez Frida Kahlo tenha conseguido, mas honestamente, eu não estou nesse nível ainda.

As pessoas não sabem do que falam. As pessoas romantizam cada coisa…

Eu não quero acreditar que escrevo bem apenas quando quero morrer, e a arte seja um balde onde vomito tudo aquilo que não me faz bem, a privada do banheiro da balada onde você coloca pra fora todo o exagero do resto da noite, sem pensar, sem refletir, sem criar por querer fazer algo que valha a pena.

Bom, eu já passei dessa fase. Não quero arrancar os cabelos, ou morrer, ou sequer ficar na cama. Não quero perpetuar a ideia de um comichão no espírito pelo bem maior.  Não existe bem maior na doença. A arte está do lado oposto.

A verdade é que Van Gogh criou coisas incríveis apesar de seus demônios, não por causa deles, não vamos dar tanto crédito assim para a dor. Quando estive internada, meu psiquiatra me falou para canalizar essa dor em algo criativo, algo produtivo, e isso me ajudou, é verdade, mas não é esse motivo pelo qual eu estou aqui ainda.

Esse não é o motivo pelo qual escrevo.

As ideias não brotam da terra infértil que é a depressão, as ideias lá, costumam morrer, antes mesmo de suas raízes se espalharem por debaixo da terra. Criar tem algo como derramar parte de nós em algo tangível, palpável, imortalizado no texto, na pintura, na música. Transferir-se para algo material, até que o outro possa olhar e então não é mais nosso, e há uma beleza nisso.

Acredito nessa beleza, acredito nesse processo, lento, que cozinha na mente até pingar no papel. Todo o resto é besteira.

Todo o resto é a orelha de Van Gogh que foi cortada como um sacrifício para algum demônio da arte. E aqui, eu reviro os olhos, aqui eu saio do recinto. Eu não quero me sacrificar mais, eu já tentei e só ganhei uma internação e acompanhamento psiquiátrico.

A arte é mais que isso. Eu quero ser mais que isso, ainda que meus textos e histórias não sejam felizes, ainda que minha mente crie as piores histórias, ela está em paz e é por isso, que as histórias transfiguraram-se em palavras num texto.

você não encontra um culpado, sabe?
é só… como as coisas se tornam. elas são complexas. são vários fatores embolados, que rolam pela história e desengata nessa merda toda.
existem os culpados de sempre, mas no fim:
eles são tão abstratos, não é? quem são eles?
quem são os vilões? e nós sequer somos mocinhos?
não.
mas eu posso te dizer isso, talvez sejamos vítimas.
e não há nenhum conforto nisso apenas a certeza dolorosa do que se esvai por entre nossos dedos.
nós somos corpos com hemorragia interna, descoberta tarde demais
a gente não sente até não conseguir sequer respirar.
daí você quer avisar as pessoas que elas estão sangrando por dentro
mas elas irão ignorar até que a primeira vertigem lhes acometa
e você vai poder culpá-las? ora, toda hemorragia interna é um conceito abstrato…
até não ser mais.
algo se perde na linguagem, na comunicação, não há união, mas desesperos individualizados.
a verdade é que eu cansei de encontrar o culpado. eu só quero cauterizar a porra da ferida.
alguma coisa precisa mudar, talvez seja mais micro do que qualquer coisa.
talvez a dor seja bem aqui dentro, talvez a inércia contribua um pouco…
é só que… porra, estamos tão cansados.
estou falando de um pequeno abcesso no fundo da garganta, do dente inflamado
a infecção não tratada que só cresce e se espalha
estou falando de negligência
porra, eu estou falando de gente morrendo!
estou falando de um sistema todo se quebrando: de uma falência múltipla dos órgãos.
estou falando desse abcesso enorme na boca do estômago, dessa carne podre.
estou falando de radicalismo.
e a gente já passou do momento de ter medo dessa palavra.
da insurgência, da desobediência… eu não quero ter medo de um caos organizado.
estou falando de arrancar pela raiz, cortar o membro gangrenado.
é isso ou o sangue continua a jorrar.
essa merda toda não é de hoje, é só que agora a infecção desceu da garganta, pela laringe, chegou no estômago, pulmões e fígado. aí, meu bem, aí já era.
a verdade é que estamos na porra da uti e algum carniceiro filho da puta quer desligar os aparelhos, vender nossos órgãos, furar a fila do transplante.
a metáfora ainda persiste, mas não se engane, gente morrer transborda dela.
a metáfora é só um jeito melhor de dizer que estamos fodidos,
um jeito mais bonito, mais palatável.
é só para gente não esquecer que tumores também crescem em silêncio.
bom, parece que o cirurgião chefe desse hospital esqueceu um bisturi em nosso estômago.
agora é tentar não morrer.
agora é lutar por justiça.
justiça…
justiça é um conceito abstrato demais pra gente entender. e só uma forma de dizer que tínhamos que ter o que é nosso por direito. que é nossa obrigação ter!
que é nossa obrigação viver bem.
que essa chaga não deveria continuar crescendo.
que nossas vidas estão em risco, e tem gente por um fio.
talvez aqui as metáforas acabem. um poema não pode seguir por muito tempo.
nem tudo é poesia, isso aqui é só desgraça mesmo.
cortes na aposentadoria não é poesia;
gente preta e favelada morrendo não é poesia;
universidades fechadas não é poesia;
desistir de lutar contra o trabalho escravo não é poesia;
feminicídio não é poesia;
a sangria não para. é interno, mas mata.

um corpo fechado, encostado na parede
eu brinco com meus cabelos
todas as vezes que não sei o que dizer
retraída na cadeira do bar
mergulhada em mais um copo de cerveja
na voragem do momento
eu desvio meus olhos castanhos
um corpo fechado espantando possibilidades
uma velha cantiga de menina ecoa
no cérebro:
quem eu sou agora?
e o que você consegue ver?
na tez eu enterro vontades
embaixo das cicatrizes das rejeições passadas
um corpo fechado, rígido na cadeira
para não dizer o que quer, mais um gole na cerveja
para gritar e queimar em cada segundo do presente
a chama acesa em meu peito
junto do cigarro, se evapora a espontaneidade
olhos castanhos e a perna cruzada
timidez definitivamente não é a palavra
um corpo fechado não parece querer nada
na voragem da insegurança
meus dedos batem na borda do copo
minha boca sorri engolindo palavras
e a distância cada vez aumenta
um corpo fechado, os pés cansados
os braços não se estendem
para quem está do outro lado.
disfarça costume com mais um trago
e queima a cachaça, boca adentro
as horas correm me deixando para trás
quando vou dizer o que eu quero
já passou o momento.

Passei esses dias na cama, e você já sabe o motivo;
fumei uns dois maços por dia, e
bebi um vinho velho que estava na geladeira
comi mal, não bebi água
vi vídeos inúteis no youtube e ignorei ligações
no vácuo de mim mesma,
no vazio gigantesco de meu universo,
retornei à gênese dos planetas
sendo compostos pelo pó das estrelas.
Não há luz emanando de mim,
apenas um resquício da radiação
de uma explosão cósmica, vinda direto
do universo.

Deitada na cama,
perdendo toda noção de gravidade em mim
deixando os pensamentos flutuarem para longe:
eu sou pó das estrelas, e existe um buraco negro, em mim.
Sugando toda luz ao seu redor, a leve luz que viaja pelo espaço
e denso, destrói tudo que encontra, sendo visível justamente por não ser,
sendo incrivelmente belo a distância
a incrível trágica beleza, de tudo que simboliza um fim.

Me desfiz em poesia.

Me refaço em antimatéria.
Me refaço em explosões atômicas
em cada esquina.

Não nasci para rimar.

Nessa hora, o cérebro muda sua química
e abaixa a taxa de serotonina,
vitamina D e endorfina.
Brutalmente, o cérebro se contorce
feito um bicho vivo na panela fervente.
e minha pele é uma roupa apertada
que eu me vejo obrigada a usar,
desconfortável demais para me mover,
justa demais para respirar.

De uma explosão cósmica,
eu sou pó das estrelas.
Me refaço agora, apenas para desfazer no final,
explodir dentro de mim mesma,
uma pequena prova viva da teoria do Caos:
um sistema dinâmico e complexo
instável na evolução temporal.

Tudo se desfaz…

Minhas inseguranças se entalam na garganta,
enquanto grito, tentando recuperar de volta minha autoestima
essa coisa de amar-se por completo é tão difícil
e agora qualquer suspiro é bem vindo.
Quero recuperar o fôlego,
o hoje é só mais uma volta que a Terra deu sem si mesma
quero fechar os olhos, descansar as retinas.
Um último suspiro antes da colisão final
na matéria mais densa, localizada em meu centro
nenhum som se propaga no vácuo,
de encontro ao meu buraco negro,
eu flutuo em meu espaço.

Lembro que sempre tive uma baixa estima de mim mesma. Veio desde pequena, esse sentimento de não-o-suficiente. Minha memória mais viva disso é ter chorado no banheiro da escola, na sexta série. A sala de aula toda gritou em uníssono meu apelido e eu não aguentei. Me vi quebrando em milhares de pedacinhos e os arrastei até o banheiro, onde eu chorei e me perguntei, pela primeira vez, se eu não era bonita o suficiente. Eu certamente não era igual as outras garotas, bonitinhas, em seus corpos magros, cabelo liso e boa personalidade. Eu era quieta, não sabia me portar, não sabia fazer amigos, não sabia dizer a coisa certa. Eu e minha cara séria, meu jeito aéreo, desajeitado.

Não melhorou muito nos anos seguintes quando eu notara que todas as garotas já tinham beijado, menos eu. Lembro de querer, mas ter medo de rirem da minha cara, de algum menino rir da minha cara por considerar um beijo dele. Lembro que um deles riu, lembro que eu chorei olhando no espelho do quarto. Eu era adolescente, e adolescente geralmente sente essas coisas, esse desalinhamento com o resto do mundo, mas eu já era precoce nesse negócio de sentir e eu sentia que não havia lugar para mim, nem entre aquelas que nem lugar tinham.

Enquanto a de outras garotas queimavam, minha confiança era um vela frágil, resistindo a um terrível vendaval. Ela fraquejava, solitária, em algum canto de minha mente, falhando em esquentar o quarto, meu cérebro.

Na faculdade, pude notar que minha personalidade ficou mais forte, não muito, mas eu já não me sentia tão fraca, não me questionava sobre meu valor diante do espelho. Jurei que iria experimentar de tudo, viver de tudo, eu me achei bonita e lembro de ter pensado que eu poderia tocar, pela primeira vez, esse mar que tanto conseguiu mergulhar, enquanto eu não saía da praia.

Minha confiança, queimou um pouco mais forte, clareou o quarto, esquentou meu corpo, meu cérebro. Eu gostei de mim, até ter adoecido.

E então, o quarto ficou no mais completo breu.

Enquanto meu corpo emagrecia pela falta de apetite e eu recebia esses elogios de como eu estava mais magra e bonita, eu me sentia podre por dentro. A vela que flamejava em meu quarto não mais queimava, sua fumaça serpenteava o ar, procurando uma saída. O cheiro de parafina irradiava até meu olfato e eu me senti triste.

Já no crepúsculo da juventude, quase sendo mulher, eu voltei a me comparar com os outros, seus corpos e desenvoltura. A confiança que funcionava quase como um imã, para que todos os olhassem, me faltava. Eu tinha dificuldades nos bastidores, olhando as personagens principais tomarem conta dos holofotes. Meu corpo deixou de ser o problema, talvez o problema fosse todo o resto e a palavra beleza era um conceito que eu não mais conhecia, e eu confundi desejo com amor, admiração. Mas o desejo se dissipa, evapora, queima, e os velhos vazios só fazem aumentar. Mesmo quando melhorei e o corpo mudou. Entendi os elogios como uma forma de quebrar o silêncio e os carinhos como forma de matar o tédio e eu juro ter tentado gostar de mim como eu queria que os outros gostassem.

Minha vela solitária tornou a se acender, mas tímida, corria sempre o risco de apagar. Meu vendaval  era mais forte que seu calor e as janelas estavam completamente abertas. Minha confiança era tão frágil quanto meu ego, sempre faminto. Minha beleza tão derradeira quanto uma noite qualquer e minha pele carregava essas inseguranças que quase saiam dos poros e, gotejavam, deixando um rastro onde quer que eu fosse.

A única coisa que sempre me senti orgulho de fazer foi escrever, estava cansada de lutar contra meu rosto e corpo, eu queria ser lida, minha voz seria o suficiente, o resto era consequência. Por isso o desejo se tornou tão banal para mim, se eu era bonita, não importava tanto, eu apenas queria ser lida, e eu conseguia queimar toda vez que escrevia, minhas histórias são minhas cinzas, que flamejaram pelas madrugadas, em uma vela solitária que conseguiu resistir a mim mesma.

Chego tarde da noite em casa, as luzes do meu prédio já estão quase todas apagadas, indicando que a maioria já foi dormir. Do portão do condomínio, consigo ver minha janela, com as luzes igualmente apagadas.

Ao fim do estacionamento, que está localizado no meio de dois prédios, existe um parquinho que está aí desde que me mudei para cá. Ele já é bem antigo, e as crianças não brincam nele mais. Suas cores amarelo e vermelha estão opacas e em vários cantos pode-se ver o ferrugem tomando conta. Um dos balanços está quebrado e pequeno escorregador segue por um fio. Eu me dirijo até ele, quando sinto que não quero entrar em casa. Quando sinto que não quero sentir o cheiro do meu espaço, e os móveis dispostos de certa forma. A casa vazia, as paredes sujas. Meu cheiro no meu quarto e a minha cama, que me espera para deitar.

Sento-me em um dos balaços que pode quebrar a qualquer momento, ainda mais com o peso de uma mulher adulta, mas dou de ombros. Às vezes eu tenho pavor de ficar sozinha, pavor de olhar minha casa e sentir que há espaço suficiente para pensar. Tenho pavor de dormir, por isso preciso de auxilio de um remédio. Fechar os olhos, com a cabeça deitada no travesseiro, faz com que lembranças inundem meu cérebro. De olhos fechados tudo parece mais intenso. As lamentações, o peso dos dias, minhas saudades. Eu continuo olhando para o espaço vazio ao meu lado. Eu não funciono bem sozinha. A solidão sempre grita alto demais para mim, não importa o quanto eu tape os ouvidos. Sentada no balanço, eu acendo um cigarro enquanto eu olho para a lua tão cheia e amarela, por entre as árvores. Eu penso que eu não quero subir as escadas. Sentada ali, me sinto confortável balançando, levemente, para frente e para trás.

Eu sou cheia de medos e inseguranças que quase se sobressaem na pele. Nesses momentos, sem ninguém a minha volta, eu assumo que sou frágil. Uma vez me disseram que eu não pareço insegura. Talvez pela forma que converso, talvez pela forma que me porto. Talvez seja as últimas fotos postadas nas rede sociais. Tudo para fingir bem. Me esconder bem. Tudo para não estar sozinha, sentada no velho parquinho do prédio.

Meu cigarro queima rápido demais e não demora a eu jogar a bituca no lixo. A vontade é acender outro. Eu estou fumando demais. Vivo sobre a ajuda de coisas externas. Antidepressivos, controladores de humor, indutores de sono. Cigarro para acordar, depois do café. Cigarro para pensar. Um calmante se eu tiver um crise, cigarros também para aguentar crises. Sexo se estiver me sentindo sozinha. Talvez uma balada. Eu não me basto. Café para acordar e curar a ressaca. Álcool para me divertir, talvez outras drogas, dependendo do tamanho do estrago. Tudo para tentar possuir por mais tempo uma felicidade que nunca foi minha por direito. Terceirizando os serviços que eu deveria fazer por mim mesma.

Tudo que vai contra ao que aprendi na terapia.

Me balanço um pouco mais forte, e o rangido das correntes começa a ecoar por todo o estacionamento. Agora, consigo sentir o vento contra meu rosto e meus cabelos esvoaçarem contra o impacto. Eu queria estar confortável dentro de mim, mas me sinto apertada dentro dessa pele que parece mais uma roupa justa demais. Não é questão de chorar mais, é uma questão de um entorpecimento a longo prazo. Agora estou indo mais rápido, eu quase me sinto tranquila. Quase não penso em mais nada. Quase… Agarrando essa frágil paz pelas mãos.

Naquele sábado eu havia ido para uma balada sozinha pela primeira vez. Verdade seja dita, eu só não queria voltar pra casa, pegar o metrô e olhar pela mesma paisagem e notar aquele sentimento de vazio, feito vespas caminhando em meu estômago, com suas patinhas leves e seus ferrões afiados. Fui sozinha, a vontade era só dançar, ouvir alguma música e dançar até que o corpo todo estivesse suado e eu pudesse de alguma forma me exorcizar na pista de dança.

Já cheguei e comprei uma cerveja, só para não ficar de mãos vazias, já que eu não tinha com quem conversar, se bem que é fácil puxar conversa fiada. Só é cansativo se forçar a isso. Querer parecer que você está fazendo alguma coisa: conversando, beijando, fumando, bebendo. Beber e fumar só trazem malefícios a longo prazo. Dá pra lidar com isso, eu consigo aguentar as consequências. Forçar-se a socializar por outro lado…

Fui para a pista de dança e já tocava uma artista indie de Pernambuco que eu adoro, misturando um eletrônico com uma espécie de sofrência que eu juro, faz todo o sentido ouvir assim, na solidão. Solidão pura, quando você é o único ser em um local que não está com ninguém. Dancei! Dancei por duas horas seguidas misturando cerveja e gin tônica. Saindo, por vezes para o fumódromo e trocando algumas palavras com algumas pessoas, nada interessante. Era algo como piadas sobre o público jovem ou alguém me perguntar meu signo embora eu já esteja na idade de que signo não me importa, mas eu respondo: peixes, ascendente em gêmeos, lua em áries e meu vênus é maravilhoso!!! Áries também. Ai cara eu odeio pessoas de câncer, blá blá blá. Me dou muuuito bem com pessoas de leão, etc.

A cerveja rapidamente ficou quente, e o gelo da gin tônica derretou no copo e tornou o drink aguado. Logo fiquei entediada, em algumas duas horas descobri que não sou uma dessas pessoas que vão em balada sozinhas. Talvez eu não seja uma dessas pessoas que conseguem ir com calma em uma coisa de cada vez, ou esperar a coisa ficar melhor daqui trinta, sessenta, oitenta minutos. Talvez eu apenas não consiga esperar a música ruim do set passar e o próximo DJ ser anunciado. Eu me entedio rápido, eu fico de saco cheio rápido, eu só perdi a paciência.

Talvez, só talvez, essas coisas meio triviais ou têm que ser boas ou não fazem sentido. Eu perco a vontade, o tesão. Falando em tesão… no meio da madrugada resolvi mandar mensagem para um desses caras na lista do whatsapp, gente que eu sei que faria o mesmo comigo, que talvez eu não tenha sentido essa conexão profunda, que talvez me salvassem dali, ou me oferecesse algo melhor pelas próximas horas.

Joguei um verde, disse que a balada estava ruim, mas cara, é caro ir daqui até minha casa de uber, acho que vou ficar aqui nessa tortura pelas próximas horas. O cara pergunta quanto daria um uber e eu digo: é caro. Faço um drama, mas me mantenho engraçada, reclamo um pouco do lugar, mas elogio o som. É só que aqui só tem criança. Ele não demora a oferecer para pagar um uber da balada até sua casa: você pode dormir aqui, se quiser… Mas eu não finjo dúvidas, eu já aceito.  

Não é cansativo, essa insatisfação crônica? Esse vespeiro em algum canto do cérebro que te faz querer pular na próxima cama, usar a primeira droga, se recusar a largar a festa? Eu que o diga…

Chego no prédio e subo o elevador. No caminho, andares acima, tento retocar o batom no espelho e arrumo meus cabelos e me pergunto se estou bonita. Sabe, eu tenho pensado nisso esses dias, na beleza e eu não ando muito feliz comigo, mas eu juro tentar deixar isso em casa, pra ninguém conseguir farejar por aí.

Ele me espera na porta do elevador, sorrindo. Camiseta velha e samba canção. Me dá um abraço apertado, elogia meu cheiro e abre a porta de sua casa para eu entrar.

Sentamos no sofá, enquanto ele me oferece uma cerveja e eu retiro os sapatos que agora me incomodam. Eu o encaro alguns segundos, há um sorriso no canto de seus lábios, talvez esteja com o ego lá em cima: olha só a surpresa dessa madrugada de sexta-feira! Talvez esteja feliz em me ver. Seu sorriso convencido me irrita um pouco, mas eu juro deixar isso pra lá. Não quero analisar demais isso aqui e logo começamos a conversar sobre francamente qualquer coisa, a conversa não é muito profunda e eu me peguei prestando mais atenção na música meio brega que ele colocou pra tocar no spotify. Eu não quero soar escrota, é só… Estou tentando praticar essa coisa nova, de não colocar importância em tudo.

O enxame no meu cérebro começa a zunir novamente. Sinto picadas em meu crânio e algo me diz que o velho tédio está voltando, voltando a formigar no corpo e me fazer duvidar se isso era uma boa ideia, talvez não. Provavelmente eu não voltarei me sentindo muito feliz amanhã.

Mas agora ele diz que está com sono, quer ir pra cama. Eu aceito, e não acharia ruim se apenas dormissemos, talvez fosse até melhor. Talvez fosse mais sábio, mais maduro, menos covarde. Só deitar e dormir, sem transar apenas para matar alguma coisa que segue se movimentando pelo meu corpo. Quando nos deitamos ele me beija pela primeira vez, e sua boca tem gosto de pasta de dente, a minha, provavelmente, de cerveja. Ele rapidamente tira a camiseta que eu havia acabado de colocar. E nada é dito, enquanto ele beija meu corpo e é só aí que eu esqueço que minha mente se comporta como uma colméia em caos.

Enquanto minhas pernas estão entrelaçadas em sua cintura e ele coloca a camisinha, olhando para meu rosto, iluminado pela luz que irradia da janela, eu respiro fundo e fecho os olhos. Seu pau é a droga que faz minha mente sair de sintonia, onde uma tela preta se instala entre eu e meus pensamentos, minhas agonias e angústias e essa vontade visceral de apenas ter algo real nas mãos. Eu quase esqueço quem sou entre os gemidos e as mãos que passeiam entre curvas cabelos, barba, boca. Talvez minha psicóloga tenha razão, eu uso o sexo como válvula de escape. O sexo é intenso e rápido, gozar ou transcender não estava nas expectativas de qualquer forma. Mas minha pele está vermelha e minha mente se acalma.

A putaria logo me faz dormir, mais tranquila. Eu chego a não ter nem pesadelos.

Acordo no outro dia antes dele. Faz um baita Sol lá fora e ele ronca baixinho, apoiando a cabeça em uma das mãos. Me levanto, tomo uma água, me visto e o acordo: dia cheio, preciso ir pra casa. Ele me leva, sonolento até a porta, nos despedimos com um selinho e eu caminho até o metrô. Não sentindo nada, essa falta do sentir quase machuca, quase perfura, mas não chega a tanto. Não sangra, não dói. Só incomoda, é quase um câimbra dos sentidos. Não há música triste de fundo, não há dores para sanar. Só uma ressaca, uma sede, uma fome que não são apenas literais.

Você adora mulheres louca, não é? Dançando despreocupadamente, na pista de dança, com as mãos no quadril, enquanto riem umas para as outras, gritando: “amiga, eu adoro essa música!”. Você adora mulheres que gostam de uma cerveja em um boteco, mulheres sem frescura, que topam de tudo. Que têm assunto para varar a noite naquelas cadeiras de plástico, com aquela cerveja barata, quando o assunto rende e segue suavemente feito nuvens do céu e o próprio céu que se transforma em milhares de tons de azul escuro até clarear gentilmente e ter sua escuridão partida pelos raios de Sol da manhã.

Você simplesmente ama essas mulheres. Mulheres de opinião, que dizem o que sentem, o que querem, o que odeiam. Que pensam, que querem algo maior da vida além da tediosa banalidade e que têm coragem de enfiar a mão mais fundo, porque não há nada mais chato que o superficial. Você simplesmente adora falar sobre o mundo, música, política, filmes e cultura, sobre a sociedade e religião, sobre arte… Falando em arte, você não adora as artistas? As mulheres que escrevem, pintam, e desenham, aquelas que tocam e cantam, que declamam suas poesias ou escrevem timidamente em seus quartos. Mulheres livres, você uma vez disse, mulheres loucas que são verdadeiras. Que sabem se defender, que não respondem a ninguém. Mulheres que parecem um conceito de um filme, aquele tipo artístico, engraçada, complexo, cabelo colorido, tatuagens e personalidade transbordando pra fora. Aquela que vira o rosto para você e num sorriso, te faz ter uma outra percepção de vida, porque elas, sim, seriam alguma coisa como um oráculo, um altar, um templo, uma reza.

Um orgasmo.

Talvez fossem melhores na cama, você pensou. Essa liberdade toda trazia menos timidez, mais desenvoltura. Não existe medo, né? De tentar coisas novas, Esse calor da pele, que chega queimar quando toca, e toda a disponibilidade de não pensar duas vezes antes de fazer algo porque quer. A liberdade que parece ter sido escrita em um livro, a personagem que só existe para libertar o mocinho. Você, um personagem que deveria ser salvo, conhece uma mulher maluca pelas ruas do centro e têm a vida transformada porque ela sabe dizer a coisa certa. E na cama? Ela tem experiência, ela não nega nada, e ela quis cuidar de você.

Você disse que elas são um tesão. Você queria uma mulher de verdade. Uma mulher de verdade do tipo que te olha nos olhos e sorri, fuma um cigarro depois da transa e diz que você é bom demais nisso.

Mas não pra sempre.

Você quis a salvação, o caldo doce da fruta. Você quis dançar com elas nas festas, entrar no meio de seus beijos e talvez, até ler suas histórias, seus poemas, não toda a obra. Você quis a noite de bar, as qualidades que emanam dos poros, as primeiras boas impressões. Primeiras boas impressões, era isso que você queria, nada tão importante, mais como um prólogo de um livro bom pra caramba. Um livro denso pra caramba, longo. Se você ao menos puder catar tudo de bom que ela te oferecer nesse primeiro e único encontro…

Mas você adora mulheres loucas. Essa loucura sexy que te impulsiona a ser um homem melhor, um homem mais culto, mais experiente. Você curte essa selvageria que você nunca pôde domar, não que você tenha tentado e não que seja possível, talvez você não durasse duas semanas. Talvez seja muito para lidar, muito para entender. Você entendeu do jeito que quis: um tesão. Do mesmo jeito que você achou aquelas duas mulheres se beijando no meio da festa. A mulher que se senta com você no boteco e que vem para a sua casa, transar no primeiro encontro. Essas coisas modernas. Essas mulheres que parecem sair de um filme, sabe? Existe alguma coisa de força ou complexidade, algo que você não pôde tocar completamente e que te atraiu, mas você não soube o porquê.

Você disse que gostava de mulheres de verdade, mulheres livres…

Talvez não por muito tempo, só uma noite, a cada quinze semanas. Algumas horas, até a hora do metrô abrir, até a loucura continuar, até a droga continuar fazendo efeito, até que você goze. Até que não seja real demais, sincero demais, profundo demais.

Não que você separe mulheres para transar e casar, é só que você acha mais fácil manter o relacionamento com a sua namorada da adolescência, daquela cidadezinha do interior. É só mais fácil de entender. É mais tangível. Não existem tantas camadas e medos de dizer a coisa errada, de agir de forma equivocada. Você prefere que a mulher ao seu lado concorde com o que você diz, e como age. Você quer que ela te ache tão inteligente, talvez até saia com meninas mais novas. Não é melhor? quando te olham com esse vislumbre de admiração e quando elas pensam: “ele é tão interessante, e curte filmes cults como Clube da Luta e aqueles do Tarantino!”. Você não quer correr o risco de ser um babaca, é melhor não se aproximar demais, não conhecer demais, e só lavar os pés. Você ama, mulheres modernas, mas talvez não dê conta. Talvez não acompanhe o papo que segue com as transformações da noite, talvez o seu papo não dure tantas noites, não sobreviva ao boteco, e seus passos na pista de dança sejam ensaiados demais. Talvez elas notem, talvez olhem para a insegurança escondida embaixo da pele, o ego frágil que soa pelos poros, o sexo breve e triste. Quem sabe elas não estejam rindo de você? Melhor ficar seguro, nas bordas, onde a água toca só os joelhos, nada tão profundo, você quer ter o controle.

Parecia mais um personagem de um filme, né? Essas mulheres malucas, cheias de questões e opiniões, cuja beleza você não soube muito bem explicar, mas estava ali. Um filme cujo mocinha é transformado por essas mulheres. Excêntricas. Exóticas. Livres. Difíceis. Malucas.

Suas histórias tristes talvez não te interessem talvez sejam tristes demais, suas opiniões muito profundas ou talvez você apenas não consiga acompanhar. Você queria ser salvo, sem ter que investir muito, sem ter que doar muito, sem absorver demais. Quase uma terapeuta, quase uma messias. Você adora mulheres loucas, o conceito, a desenvoltura, a complexidade, mas jura sentir um alívio quando elas vão embora pela manhã.

Lembro que já estive aqui antes. Dancei por essas ruas, onde chão mais parecia um céu estrelado, cujas cores e o fedor misturavam-se de forma sinestésica. A música alta me embalava o corpo e me tirava pra dançar, e as máscaras e as bebidas, escondiam o outro, levando-nos em uma espécie de histeria coletiva, a mente em um vendaval.

Seguramos mãos estranhas e sorrimos por longas horas, até cair em braços suados, até que o céu fosse tomado por nuvens, e a chuva de verão dispersasse o bloco. A chuva rápida, que vem pra refrescar e lavar todo o glitter do corpo, borrando a maquiagem, um corpo se esfrega no outro e o calor não se dissipa, mas aumenta. Com sorte, olhos se cruzam, e tudo bem, só olhar para a superfície, estes nunca foram dias de profundidades. Desprenda-se disso, os lábios são macios, a música faz vibrar até o estômago.

O vento não tem poder aqui, enquanto um é quase o outro, e existe um alegria instantânea que não vêm da bala misturada da cerveja. Você se batiza em um mar de felicidade, e entra para uma religião temporária, estendendo as mãos para o céu de olhos fechados, a multidão canta em uníssono.

Eu dancei por essas ruas, a gente abriu o corpo querendo ser esponja e absorver tanta alegria, levar um pouco para a casa, espalhar na cama, feito o glitter que não sai da gente mesmo semanas depois a festa. Você me viu? Um cigarro na mão e uma lata de cerveja meio quente na outra, tentando fingir que eu sei sambar? Mas eu vi você, minhas coxas brilhavam de suor, seus olhos estavam vermelhos, da cor do glitter espalhado por meu colo. Não há nada de errado na falta de profundidade, a gente precisa respirar, meu bem. Tudo é tão sério e tão horrível, eu quero pisotear nesses medos, por entre os blocos do centro.

Não faz mal que chova um pouco, só um pouco, e que nossos lábios fiquem dormentes durante um beijo com o gosto da última bebida que você tomou. Você tentou, não tentou? Se batizar em mim, mergulhar no corpo, no suor salgado, na animação com data de validade? Mas andamos com o bloco e você me encochou no meio da avenida. Já anoitecia, e eu respirei fundo, olhando pra lua cheia no céu e depois olhei para o céu aos meus pés e senti sua respiração no meu pescoço, quase que tatuando seu dna em minha tez, e eu pensei que o tesão misturado com a alegria me fazia quase pegar fogo por dentro, não só entre as pernas, mas no corpo todo. Eu quis explodir feito fogos de artificio, feito as ondas sonoras que estrondavam da caixa do trio, feito o chão que eu senti vibrar.

Mas eu já estive aqui antes, tentei catar tudo que pude dessa alegria finita, e o fim brilhava no horizonte bem a frente, na próxima esquina onde a multidão seguia. O fim não estava próximo, mas eu já podia sentir seu gosto metálico na boca. Foi bom, não foi? Se iludir por um pequeno momento, pensar que a vida era isso: suor na testa, a música repetida em coro. Os quadris serpenteiam o ar pela avenida e os olhares se cruzam de maneira fugaz.

A íris brilha e você chamou isso de mágica, mas eu já tinha meus pés no chão. Meu bem, eu não consigo evitar de ser um pouco pessimista, mas eu estarei lá de novo. Pisoteando meus anseios e tentando matar alguma questão não resolvida aqui dentro, até que meus pés não aguentem mais. Eu vou sentir seu corpo contra o meu, suas mãos passearem por minhas curvas, como quem faz o trajeto de mais um bloco. Na curva do meu pescoço, há angústias espalhadas, que eu não consegui deixar em casa. Misturadas com glitter, sua língua molhada vem anunciando que tem gosto de carnaval.

Cai logo pra dentro. Levanto a cara e abro a boca, tentando engolir os pingos grossos da chuva. Me desespero um pouco, me vendo sozinha na rua vazia, as pessoas estão dentro de suas casas, esperando a tempestade passar. Eu não quero ter medo de me molhar, ou estragar minhas velhas botas e a maquiagem que agora está borrada.

Sinto que minha consolação é a coragem de ter tentado ainda que nunca de em nada ou que o esforço não pague no final, eu me vejo sozinha na chuva.

Cai logo pra dentro. Essa gana de sentir na pele, a intensidade de apenas querer estar viva, ainda que viver seja bem diferente de apenas existir. Meus olhos ardem com mais uma gota d’água que se mistura com o rímel e irrita minha retina. É tarde demais, eu já estou ensopada, tarde demais para se ponderar se eu deveria ter deixado o guarda-chuva em casa e a velha prudência entediante de antes. Tarde demais para me perguntar se eu deveria ter deixado encostar bem na carne, além da pele, onde mais arde, onde a água bate, e a ferida sente. Tarde demais para fingir que me arrependo.

Não quero me arrepender. Não quero caminhar na rua olhando para trás, me abraçando de frio, me sentindo uma criança boba, emocionada pelo primeiro banho de chuva. A água não faz milagres, a sujeira sempre acaba indo para outro lugar, escondida nos esgotos e empilhada nas poças que se formam no meio da rua. A água não faz milagres, mas eu ainda fecho os olhos, feliz por ter me deixado sentir algo ainda que a brisa gelada faça minha pele urrar em arrepios. Essa não é uma chuva de verão.

Cai logo pra dentro. Essa eterna desilusão com a realidade, nada saiu como eu esperava e eu encontro um conforto nisso, caminhando na rua, esperando que a enxurrada não me leve, mas eu não quero ir contra a corrente, não mais. A chuva é intensa, as árvores quase sucumbem ao vento, o barulho do vendaval chorando sussurros desconexos para mim, e eu apenas quero sorrir pra essa força. Me lembro de quando eu era criança, brincando no quintal de casa, achei graça enfiar minha perna num formigueiro, na pequena moita perto da porta da cozinha. Chorei quando as formigas subiram na perna, picando seu caminho acima, a gente faz essas coisas idiotas pra experimentar, pra sentir como é o barato; e minha mãe veio correndo me acudir, perguntando o motivo de eu ter feito isso. A gente não sabe o motivo pelo que faz nada, a gente só faz. A gente só vive porque quer sentir o que é estar vivo, cai pra dentro essa vontade de me arriscar novamente, por amor, por realização, para me colocar no mundo ainda que o vento abafe mais um grito que escorrega de minha garganta.

Não há pássaros na chuva, nem as pombas sujas da rua, nem os ratos que caminho pela sarjeta. Não há paz virando a esquina, eu não quero ter paz. Eu não quero a tristeza de ter paz, às custas do medo e da eterna pergunta do que seria. Cai logo pra dentro essa vontade de jogar nos braços do impossível ainda que eu dê de cara com o chão, do salto do precipício rumo às pedras na beira da praia. Vejo beleza na coragem da loucura, vejo beleza nas cicatrizes do meu corpo, no grito na hora da raiva, nas unhas cravadas nas costas da intensidade do gozo. Vejo beleza no desastre que se permitiu ser.

Cai logo pra dentro. Essa bagunça que eu sei que me tornei, minha personalidade forte, quase que insuportável, e as manias chatas, a sinceridade de cortar aquele ótimo e superficial clima. Cai logo pra dentro, na boca da alma, na garganta do estômago esse pingo de chuva gelada. Eu caminho no meio da rua, minhas ressalvas se desfazem, o açúcar que esconde o verdadeiro sabor das coisas, se desmancha na chuva. Não quero pensar duas vezes antes de dar o próximo passo, quero a coragem de ser quem eu sou, seja lá que porra isso signifique.

Se algum dia soube me expressar em palavras, aconteceu há muito tempo atrás, pois já não me cabe saber falar sobre tantos sentimentos. Acabo pensando que cartas de suicídio pode conter mais sentimentos que algo que eu decida dizer ou escrever. Suponhamos que ainda eu saiba me expressar, quer dizer que entendo sobre o que sinto? Creio que não. Há muitos anos que não me permito debruçar sobre papéis e chorar versos ou até mesmo textos sentimentais ali. Espero que nesse momento, através dessa pequena resenha que fiz até aqui para desbloquear meus pensamentos e meu dom adormecido, algo faça sentido, porque faz algum tempo que nada mais é como antes.

- l, stefani.

eu parei de escrever sobre sentimentos,

porque me tornei alguém despreocupado com

essa forma de se expressar.

é tão triste pensar aonde viemos parar.

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