#projetoflorescerja

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Você já reparou que as pessoas não são capazes de perceber suas fragilidades, até que você tenha uma explosão de emoções? É como se jogassem um copo na parede e na hora de recolher os cacos se cortassem, assim percebendo o quanto era frágil. Na vida pode ser assim, enquanto você não machuca os outros de volta, não se dão conta que sim, você pode ser vulnerável.


E.Denis

Seus sonhos ainda eram o que mantinham resquícios de sua personalidade antes de se apaixonar por ele. Mas aí, ela decidiu guarda-lós para viver os sonhos dele e agora ninguém mais a reconhece. Não explicaram que para se perder no amor de outra pessoa você não precisa deixar de existir.

Estou aprendendo a demonstrar mais. Tenho consciência que mudei e passei a “enjaular” meus sentimentos. O eu te amo trava na boca, mesmo o coração a 100km.

Tenho até achado bom que ninguém pergunte como me sinto. Isso me levaria para uma autorreflexão sem volta. Aceitei que para algumas questões a melhor escolha é a “sem resposta”.

E.Denis

Nunca fique com uma pessoa achando que vai conseguir mudá-la. Esse tipo de expectativa sempre acaba com a nossa autoestima.

Cada um de nós da um passo de cada vez, mas a cada passo é uma órbita em nossa vida, cada qual uma decisão aparentemente rasa, mas que submerge nas profundezas daquilo que não sabemos que será consequência. A vida é assim. Nós não sabemos de nada até que aconteça, são só suposições… e infelizmente vivemos nessa órbita. 

“Eu te entendo”, “eu te amo”, “eu estarei sempre com você”, “eu acredito em você”, “nunca vou mudar”, “nunca vou te abandonar”, “estarei aqui para o que precisar”… e tantas outras frases rasas sem comprometimento do que é verdadeiro significado. Imagino o quanto pode ser doloroso, tanto da parte de quem diz, quanto da parte que acolhe, quando essa “certeza” desmorona sua órbita. Isso afirma a teoria de que muito na vida é suposição… e muito além disso: como somos fracos. É suposição por acharmos que palavras irão suprir a presença real de sua prática, e fracos, porque não conseguimos lidar com a consequência do que dizemos, simplesmente por não entendermos seu real significado. E quantos corações foram feridos por essas contradições… “mas você disse que estaria comigo…”, e a resposta é um simples dar de ombros. Somos fracos.

A suposição é como um vírus, que corrói a alma e nos desconstrói como seres humanos, é uma vertente da ignorância quando dizemos aquilo que nosso coração não tem convicção de viver. Você tem ideia da sensibilidade de uma alma?! tem ideia das dores constantes que absorvem por um dia difícil, para ainda você a desconstruir com suas meias palavras?! É triste, e é mais triste ainda, quando alguém chega em sua vida para construir morada eterna, e você duvida… pois já te enganaram. E é na suposição que as pessoas não sabem o que é amar. E eis a pergunta: você é convicto no amor?

Sabe… ninguém é perfeito. Mas entenda o real sentido do que você diz, do que você absorve, do que salva e do que desmorona a vida de alguém. Você sabe quem é, e também sabe quem quer ser para o mundo, por isso… não fique na suposição: saiba o que você está fazendo, e viva como quem escolheu ser quem é. Escolha orbitar no amor, mas antes… entenda seu real significado, se aprofunde… cada passo nessa órbita, é um salto no mundo de alguém.

Wilson WRA

05/08/2021 10:14

“Tudo tem haver com o tempo:

O tempo que se leva para realizar uma atividade,
para embarcar à uma aventura;
para amar, perdoar e começar de novo;
para entender que não se trata de aceitar a vida como ela é, mas sim de dar significado àquilo que realmente importa.


Talvez essa seja a verdadeira unidade de medida de um coração humano, o tempo. Como o tempo é precioso, e a única coisa que precisamos fazer é não perde-lo de vista!”

Wilson WRA

26/03/2021 10:14

Fonte:contosdeummisterio

Eu não quero produzir apenas quando eu estou mal. Quando estou deprimida, para baixo, em crise, prestes a arrancar os cabelos, a cortar a pele apenas para sentir algo.

Como se talento, criação e sofrimento fossem a mesma coisa.

Talvez a arte seja uma forma de se fazer ouvido, de traduzir as inquietações e o cérebro que se contorce, para o papel. Verdade é que Van Gogh não era talentoso porque cortou a porra da orelha fora e depressão e transtornos mentais não ajudam tanto na arte como se diz por aí.

Honestamente, quando menos produzi foi quando estive pior. É difícil criar uma obra de arte estando na cama, talvez Frida Kahlo tenha conseguido, mas honestamente, eu não estou nesse nível ainda.

As pessoas não sabem do que falam. As pessoas romantizam cada coisa…

Eu não quero acreditar que escrevo bem apenas quando quero morrer, e a arte seja um balde onde vomito tudo aquilo que não me faz bem, a privada do banheiro da balada onde você coloca pra fora todo o exagero do resto da noite, sem pensar, sem refletir, sem criar por querer fazer algo que valha a pena.

Bom, eu já passei dessa fase. Não quero arrancar os cabelos, ou morrer, ou sequer ficar na cama. Não quero perpetuar a ideia de um comichão no espírito pelo bem maior.  Não existe bem maior na doença. A arte está do lado oposto.

A verdade é que Van Gogh criou coisas incríveis apesar de seus demônios, não por causa deles, não vamos dar tanto crédito assim para a dor. Quando estive internada, meu psiquiatra me falou para canalizar essa dor em algo criativo, algo produtivo, e isso me ajudou, é verdade, mas não é esse motivo pelo qual eu estou aqui ainda.

Esse não é o motivo pelo qual escrevo.

As ideias não brotam da terra infértil que é a depressão, as ideias lá, costumam morrer, antes mesmo de suas raízes se espalharem por debaixo da terra. Criar tem algo como derramar parte de nós em algo tangível, palpável, imortalizado no texto, na pintura, na música. Transferir-se para algo material, até que o outro possa olhar e então não é mais nosso, e há uma beleza nisso.

Acredito nessa beleza, acredito nesse processo, lento, que cozinha na mente até pingar no papel. Todo o resto é besteira.

Todo o resto é a orelha de Van Gogh que foi cortada como um sacrifício para algum demônio da arte. E aqui, eu reviro os olhos, aqui eu saio do recinto. Eu não quero me sacrificar mais, eu já tentei e só ganhei uma internação e acompanhamento psiquiátrico.

A arte é mais que isso. Eu quero ser mais que isso, ainda que meus textos e histórias não sejam felizes, ainda que minha mente crie as piores histórias, ela está em paz e é por isso, que as histórias transfiguraram-se em palavras num texto.

um corpo fechado, encostado na parede
eu brinco com meus cabelos
todas as vezes que não sei o que dizer
retraída na cadeira do bar
mergulhada em mais um copo de cerveja
na voragem do momento
eu desvio meus olhos castanhos
um corpo fechado espantando possibilidades
uma velha cantiga de menina ecoa
no cérebro:
quem eu sou agora?
e o que você consegue ver?
na tez eu enterro vontades
embaixo das cicatrizes das rejeições passadas
um corpo fechado, rígido na cadeira
para não dizer o que quer, mais um gole na cerveja
para gritar e queimar em cada segundo do presente
a chama acesa em meu peito
junto do cigarro, se evapora a espontaneidade
olhos castanhos e a perna cruzada
timidez definitivamente não é a palavra
um corpo fechado não parece querer nada
na voragem da insegurança
meus dedos batem na borda do copo
minha boca sorri engolindo palavras
e a distância cada vez aumenta
um corpo fechado, os pés cansados
os braços não se estendem
para quem está do outro lado.
disfarça costume com mais um trago
e queima a cachaça, boca adentro
as horas correm me deixando para trás
quando vou dizer o que eu quero
já passou o momento.

Chego tarde da noite em casa, as luzes do meu prédio já estão quase todas apagadas, indicando que a maioria já foi dormir. Do portão do condomínio, consigo ver minha janela, com as luzes igualmente apagadas.

Ao fim do estacionamento, que está localizado no meio de dois prédios, existe um parquinho que está aí desde que me mudei para cá. Ele já é bem antigo, e as crianças não brincam nele mais. Suas cores amarelo e vermelha estão opacas e em vários cantos pode-se ver o ferrugem tomando conta. Um dos balanços está quebrado e pequeno escorregador segue por um fio. Eu me dirijo até ele, quando sinto que não quero entrar em casa. Quando sinto que não quero sentir o cheiro do meu espaço, e os móveis dispostos de certa forma. A casa vazia, as paredes sujas. Meu cheiro no meu quarto e a minha cama, que me espera para deitar.

Sento-me em um dos balaços que pode quebrar a qualquer momento, ainda mais com o peso de uma mulher adulta, mas dou de ombros. Às vezes eu tenho pavor de ficar sozinha, pavor de olhar minha casa e sentir que há espaço suficiente para pensar. Tenho pavor de dormir, por isso preciso de auxilio de um remédio. Fechar os olhos, com a cabeça deitada no travesseiro, faz com que lembranças inundem meu cérebro. De olhos fechados tudo parece mais intenso. As lamentações, o peso dos dias, minhas saudades. Eu continuo olhando para o espaço vazio ao meu lado. Eu não funciono bem sozinha. A solidão sempre grita alto demais para mim, não importa o quanto eu tape os ouvidos. Sentada no balanço, eu acendo um cigarro enquanto eu olho para a lua tão cheia e amarela, por entre as árvores. Eu penso que eu não quero subir as escadas. Sentada ali, me sinto confortável balançando, levemente, para frente e para trás.

Eu sou cheia de medos e inseguranças que quase se sobressaem na pele. Nesses momentos, sem ninguém a minha volta, eu assumo que sou frágil. Uma vez me disseram que eu não pareço insegura. Talvez pela forma que converso, talvez pela forma que me porto. Talvez seja as últimas fotos postadas nas rede sociais. Tudo para fingir bem. Me esconder bem. Tudo para não estar sozinha, sentada no velho parquinho do prédio.

Meu cigarro queima rápido demais e não demora a eu jogar a bituca no lixo. A vontade é acender outro. Eu estou fumando demais. Vivo sobre a ajuda de coisas externas. Antidepressivos, controladores de humor, indutores de sono. Cigarro para acordar, depois do café. Cigarro para pensar. Um calmante se eu tiver um crise, cigarros também para aguentar crises. Sexo se estiver me sentindo sozinha. Talvez uma balada. Eu não me basto. Café para acordar e curar a ressaca. Álcool para me divertir, talvez outras drogas, dependendo do tamanho do estrago. Tudo para tentar possuir por mais tempo uma felicidade que nunca foi minha por direito. Terceirizando os serviços que eu deveria fazer por mim mesma.

Tudo que vai contra ao que aprendi na terapia.

Me balanço um pouco mais forte, e o rangido das correntes começa a ecoar por todo o estacionamento. Agora, consigo sentir o vento contra meu rosto e meus cabelos esvoaçarem contra o impacto. Eu queria estar confortável dentro de mim, mas me sinto apertada dentro dessa pele que parece mais uma roupa justa demais. Não é questão de chorar mais, é uma questão de um entorpecimento a longo prazo. Agora estou indo mais rápido, eu quase me sinto tranquila. Quase não penso em mais nada. Quase… Agarrando essa frágil paz pelas mãos.

Você adora mulheres louca, não é? Dançando despreocupadamente, na pista de dança, com as mãos no quadril, enquanto riem umas para as outras, gritando: “amiga, eu adoro essa música!”. Você adora mulheres que gostam de uma cerveja em um boteco, mulheres sem frescura, que topam de tudo. Que têm assunto para varar a noite naquelas cadeiras de plástico, com aquela cerveja barata, quando o assunto rende e segue suavemente feito nuvens do céu e o próprio céu que se transforma em milhares de tons de azul escuro até clarear gentilmente e ter sua escuridão partida pelos raios de Sol da manhã.

Você simplesmente ama essas mulheres. Mulheres de opinião, que dizem o que sentem, o que querem, o que odeiam. Que pensam, que querem algo maior da vida além da tediosa banalidade e que têm coragem de enfiar a mão mais fundo, porque não há nada mais chato que o superficial. Você simplesmente adora falar sobre o mundo, música, política, filmes e cultura, sobre a sociedade e religião, sobre arte… Falando em arte, você não adora as artistas? As mulheres que escrevem, pintam, e desenham, aquelas que tocam e cantam, que declamam suas poesias ou escrevem timidamente em seus quartos. Mulheres livres, você uma vez disse, mulheres loucas que são verdadeiras. Que sabem se defender, que não respondem a ninguém. Mulheres que parecem um conceito de um filme, aquele tipo artístico, engraçada, complexo, cabelo colorido, tatuagens e personalidade transbordando pra fora. Aquela que vira o rosto para você e num sorriso, te faz ter uma outra percepção de vida, porque elas, sim, seriam alguma coisa como um oráculo, um altar, um templo, uma reza.

Um orgasmo.

Talvez fossem melhores na cama, você pensou. Essa liberdade toda trazia menos timidez, mais desenvoltura. Não existe medo, né? De tentar coisas novas, Esse calor da pele, que chega queimar quando toca, e toda a disponibilidade de não pensar duas vezes antes de fazer algo porque quer. A liberdade que parece ter sido escrita em um livro, a personagem que só existe para libertar o mocinho. Você, um personagem que deveria ser salvo, conhece uma mulher maluca pelas ruas do centro e têm a vida transformada porque ela sabe dizer a coisa certa. E na cama? Ela tem experiência, ela não nega nada, e ela quis cuidar de você.

Você disse que elas são um tesão. Você queria uma mulher de verdade. Uma mulher de verdade do tipo que te olha nos olhos e sorri, fuma um cigarro depois da transa e diz que você é bom demais nisso.

Mas não pra sempre.

Você quis a salvação, o caldo doce da fruta. Você quis dançar com elas nas festas, entrar no meio de seus beijos e talvez, até ler suas histórias, seus poemas, não toda a obra. Você quis a noite de bar, as qualidades que emanam dos poros, as primeiras boas impressões. Primeiras boas impressões, era isso que você queria, nada tão importante, mais como um prólogo de um livro bom pra caramba. Um livro denso pra caramba, longo. Se você ao menos puder catar tudo de bom que ela te oferecer nesse primeiro e único encontro…

Mas você adora mulheres loucas. Essa loucura sexy que te impulsiona a ser um homem melhor, um homem mais culto, mais experiente. Você curte essa selvageria que você nunca pôde domar, não que você tenha tentado e não que seja possível, talvez você não durasse duas semanas. Talvez seja muito para lidar, muito para entender. Você entendeu do jeito que quis: um tesão. Do mesmo jeito que você achou aquelas duas mulheres se beijando no meio da festa. A mulher que se senta com você no boteco e que vem para a sua casa, transar no primeiro encontro. Essas coisas modernas. Essas mulheres que parecem sair de um filme, sabe? Existe alguma coisa de força ou complexidade, algo que você não pôde tocar completamente e que te atraiu, mas você não soube o porquê.

Você disse que gostava de mulheres de verdade, mulheres livres…

Talvez não por muito tempo, só uma noite, a cada quinze semanas. Algumas horas, até a hora do metrô abrir, até a loucura continuar, até a droga continuar fazendo efeito, até que você goze. Até que não seja real demais, sincero demais, profundo demais.

Não que você separe mulheres para transar e casar, é só que você acha mais fácil manter o relacionamento com a sua namorada da adolescência, daquela cidadezinha do interior. É só mais fácil de entender. É mais tangível. Não existem tantas camadas e medos de dizer a coisa errada, de agir de forma equivocada. Você prefere que a mulher ao seu lado concorde com o que você diz, e como age. Você quer que ela te ache tão inteligente, talvez até saia com meninas mais novas. Não é melhor? quando te olham com esse vislumbre de admiração e quando elas pensam: “ele é tão interessante, e curte filmes cults como Clube da Luta e aqueles do Tarantino!”. Você não quer correr o risco de ser um babaca, é melhor não se aproximar demais, não conhecer demais, e só lavar os pés. Você ama, mulheres modernas, mas talvez não dê conta. Talvez não acompanhe o papo que segue com as transformações da noite, talvez o seu papo não dure tantas noites, não sobreviva ao boteco, e seus passos na pista de dança sejam ensaiados demais. Talvez elas notem, talvez olhem para a insegurança escondida embaixo da pele, o ego frágil que soa pelos poros, o sexo breve e triste. Quem sabe elas não estejam rindo de você? Melhor ficar seguro, nas bordas, onde a água toca só os joelhos, nada tão profundo, você quer ter o controle.

Parecia mais um personagem de um filme, né? Essas mulheres malucas, cheias de questões e opiniões, cuja beleza você não soube muito bem explicar, mas estava ali. Um filme cujo mocinha é transformado por essas mulheres. Excêntricas. Exóticas. Livres. Difíceis. Malucas.

Suas histórias tristes talvez não te interessem talvez sejam tristes demais, suas opiniões muito profundas ou talvez você apenas não consiga acompanhar. Você queria ser salvo, sem ter que investir muito, sem ter que doar muito, sem absorver demais. Quase uma terapeuta, quase uma messias. Você adora mulheres loucas, o conceito, a desenvoltura, a complexidade, mas jura sentir um alívio quando elas vão embora pela manhã.

Lembro que já estive aqui antes. Dancei por essas ruas, onde chão mais parecia um céu estrelado, cujas cores e o fedor misturavam-se de forma sinestésica. A música alta me embalava o corpo e me tirava pra dançar, e as máscaras e as bebidas, escondiam o outro, levando-nos em uma espécie de histeria coletiva, a mente em um vendaval.

Seguramos mãos estranhas e sorrimos por longas horas, até cair em braços suados, até que o céu fosse tomado por nuvens, e a chuva de verão dispersasse o bloco. A chuva rápida, que vem pra refrescar e lavar todo o glitter do corpo, borrando a maquiagem, um corpo se esfrega no outro e o calor não se dissipa, mas aumenta. Com sorte, olhos se cruzam, e tudo bem, só olhar para a superfície, estes nunca foram dias de profundidades. Desprenda-se disso, os lábios são macios, a música faz vibrar até o estômago.

O vento não tem poder aqui, enquanto um é quase o outro, e existe um alegria instantânea que não vêm da bala misturada da cerveja. Você se batiza em um mar de felicidade, e entra para uma religião temporária, estendendo as mãos para o céu de olhos fechados, a multidão canta em uníssono.

Eu dancei por essas ruas, a gente abriu o corpo querendo ser esponja e absorver tanta alegria, levar um pouco para a casa, espalhar na cama, feito o glitter que não sai da gente mesmo semanas depois a festa. Você me viu? Um cigarro na mão e uma lata de cerveja meio quente na outra, tentando fingir que eu sei sambar? Mas eu vi você, minhas coxas brilhavam de suor, seus olhos estavam vermelhos, da cor do glitter espalhado por meu colo. Não há nada de errado na falta de profundidade, a gente precisa respirar, meu bem. Tudo é tão sério e tão horrível, eu quero pisotear nesses medos, por entre os blocos do centro.

Não faz mal que chova um pouco, só um pouco, e que nossos lábios fiquem dormentes durante um beijo com o gosto da última bebida que você tomou. Você tentou, não tentou? Se batizar em mim, mergulhar no corpo, no suor salgado, na animação com data de validade? Mas andamos com o bloco e você me encochou no meio da avenida. Já anoitecia, e eu respirei fundo, olhando pra lua cheia no céu e depois olhei para o céu aos meus pés e senti sua respiração no meu pescoço, quase que tatuando seu dna em minha tez, e eu pensei que o tesão misturado com a alegria me fazia quase pegar fogo por dentro, não só entre as pernas, mas no corpo todo. Eu quis explodir feito fogos de artificio, feito as ondas sonoras que estrondavam da caixa do trio, feito o chão que eu senti vibrar.

Mas eu já estive aqui antes, tentei catar tudo que pude dessa alegria finita, e o fim brilhava no horizonte bem a frente, na próxima esquina onde a multidão seguia. O fim não estava próximo, mas eu já podia sentir seu gosto metálico na boca. Foi bom, não foi? Se iludir por um pequeno momento, pensar que a vida era isso: suor na testa, a música repetida em coro. Os quadris serpenteiam o ar pela avenida e os olhares se cruzam de maneira fugaz.

A íris brilha e você chamou isso de mágica, mas eu já tinha meus pés no chão. Meu bem, eu não consigo evitar de ser um pouco pessimista, mas eu estarei lá de novo. Pisoteando meus anseios e tentando matar alguma questão não resolvida aqui dentro, até que meus pés não aguentem mais. Eu vou sentir seu corpo contra o meu, suas mãos passearem por minhas curvas, como quem faz o trajeto de mais um bloco. Na curva do meu pescoço, há angústias espalhadas, que eu não consegui deixar em casa. Misturadas com glitter, sua língua molhada vem anunciando que tem gosto de carnaval.

Você vem até mim com machucados profundos, enraizados e enroscados, cravados no fundo de sua mente, feridas infeccionadas da infância, uma fratura exposta do seu último relacionamento, um vírus de algum transtorno mental que você não conseguiu sanar. Você se deita ao meu lado, esperando cura, esperando uma epifania que transbordaria entre nossos corpos, pelo afeto, carinho ou cuidado.

Então eu passo minhas mãos por seu rosto, suas bochechas e maxilar, seus olhos carregados de dor, suas mãos calejadas pelo trabalho de ser quem é. Num momento de silêncio, me pego afogada em suas dores, mergulhada em um lago espesso e sujo, tentando procurar a raiz do problema. Eu quero te segurar as mãos e te levar para esse lugar que você pensou que eu vivesse, essa paz desconhecida por nós dois, essa terra livre de pesadelos e arrependimentos de mil vidas atrás.

Enquanto eu me olho no reflexo da taça de vinho em sua mão e me lembro que sou construída por experiências desagradáveis, e meu senso de liberdade, minhas qualidades e falhas em minha personalidade dispostas em um gigantesco mosaico, sempre prestes a desabar. Ora forte e cheia de rachaduras, roendo as unhas e chegando atrasada, fumando mais um cigarro e rindo na hora errada.

Você espera um quadro branco em mim, um livro a ser escrito e a coisa certa a ser dita. Alguém que endosse seus atos e te segure a mão. Alguém cuja pele é sempre macia e quente, cujas pernas enlaçam e te levam para outra realidade, onde seus problemas não mais te alcançam, onde o doce e o agradável te encontram a cada esquina. Onde o sexo e o orgasmo te livram de cada sentença. Mas eu não posso te salvar. Lembro de ter chorado na manhã passada, senti essa tristeza profunda, pensei nos meus problemas e eu juro que queria conversar. Mas minhas páginas não estão mais em branco, e meu cérebro pulsa em insegurança e dias ruins, das noites insones, e minha falta de direção, essa procrastinação crônica de deixar absolutamente tudo para depois. Ah, fosse eu essa estátua perfeita, mármore minuciosamente esculpido cujos detalhes perfeitos resistiram ao tempo e a chuva ácida e as garras dessa cidade.

Algo em mim também queria falar sobre as histórias de minhas cicatrizes.

Você toma seu café amargo, bola um cigarro lentamente e olha para o nada, emerso demais em seus próprios problemas, demais até para me notar, esterilizando as feridas, limpando o sangue do carpete que agora está estragado. Respiro fundo, tentando entender porque eu sempre acabo nessa posição: lavando os pés de um falso messias, limpando o sangue de um anti herói de si mesmo.

Mas eu digo isso, eu não posso te salvar. Uma vez arruinei meu próprio carpete, sozinha, fiz uma bagunça tentando costurar as feridas, tentando estancar o sangramento, eu chorei naquele sofá, arrumando minhas mazelas, em alguma outra péssima noite. Não, não que não existam coisas boas em mim também, eu só quero lembrar dessas rachaduras inevitáveis do tempo, esses buracos aqui e ali que arruinam a ideia de perfeição.

Em meus bolsos não há milagres, em meu sorriso, não há nada transcendental. Tropeço nas calçadas e cometo erros, passo da conta e digo a coisa errada. Talvez a coisa mais sincera, a pior verdade, o golpe final. Talvez você me julgaria cruel se me conhecesse de verdade, mas em meu colo não há nada que te cure do seu velho trauma de infância e dos erros que você insiste em cometer. Eu não posso te salvar enquanto vou improvisando pelos dias fazendo o melhor que eu posso e ainda sim me deitando em uma cama de ressentimentos, quase que reabrindo as feridas, antes de adormecer.

Mas eu juro, eu gostaria de ouvir você, talvez eu não teria o conselho certo, e o olhar cheio de doçura, meus lábios já não têm o gosto doce, nem meus olhos carregam aquele brilho romântico que você esperava desde a época da adolescência.

Você fuma um último cigarro antes de dormir, relembrando todas as coisas que poderia ter dito, as vezes que deveria ter ficado quieto e diz para si mesmo que não há mais jeito pra você. Depois, deita a cabeça em minha barriga como uma criança perdida esperando a aprovação dos pais, e um cafuné na cabeça, como um prêmio por apenas aguentar até aqui. Seus olhos se fecham e seu corpo se abre tentando absorver toda a doçura do momento, convertendo-a em energia apenas para aguentar o amanhã. Meu bem, eu não conseguiria te salvar…

Eu sinto o peso de seu corpo e o peso do momento, tentando lembrar que eu ainda existo no meio de tudo. Eu não conseguiria te salvar, nem me moldar atrás das cortinas, amputar meus defeitos e me livrar de todas as partes mais fodidas da minha personalidade que eu juro, eu odeio, mas não poderia viver sem apenas para dizer as palavras certas, a frase bonita, o gesto inspirador. A grande mulher atrás do grande homem. Eu não nasci para essa merda.

Você espera a mulher dos grandes romances, dos filmes do Oscar, aquela que vai arrancar a dor de você com as próprias mãos, a que vai te botar na linha e vai te fazer sentir pela primeira vez em anos o que você achou que significaria estar vivo. Mas eu não poderia te salvar… Enquanto perco a conta de meus defeitos, meus olhos passeiam pelo quarto me lembrando a mim mesma que eu não sou um altar. Meu corpo jamais foi um templo para que os pecadores pudessem aqui se ajoelhar e se aliviar da culpa.

Meu bem, quando a manhã chega e o Sol ilumina a realidade, as marcas na pele e os problemas que jamais foram embora, quando os sonhos evaporam e a claridade chega abrupta pela janela, despertando o sono e despachando o romance, as rezas acabam, os templos se fecham. Com alguma sorte, ainda estamos vivos. E a salvação é um conceito abstrato demais que queima junto do calor da manhã.

QUE ME CERCA…


Ah! Essas cercas

De aversão

Que separam

Os dois lados

Do coração


Paisagem do amor

Agraciado pela natureza


Florido de borboletas


Aromático com a sua beleza


Que me cerca

A me perfumar


Espere eu correr

Do medo

E num impulso


Esta cerca


Certamente

Pular…


MárciaMarko


https://sonhandopoesias.blogspot.com/2022/05/que-me-cerca-um-poema-de-marciamarko.html

AH! MAR…


Uma onda de sonhos

Estoura na areia

Do meu despertar


Luz que me ilumina


Sol que me aquece


Brilho que bronzeia

Ao te ver chegar


Ah! Mar


Vívido por entre

As minhas conchas


Espumante

Lençol do meu amar


Parece que no céu

Da minha boca

Você se reflete


No mesmo élan…


MárciaMarko


https://sonhandopoesias.blogspot.com/2022/04/ah-mar-um-poema-de-marciamarko.html

ESTA NOITE…

Esta noite…

Quero ver a fantasia se desnudar de prazer

Sentir o mel que escorre dos meus lábios

Na sua boca derreter

E aquele morango dos meus desejos

Se você quiser eu deixo…

Você comer…

MárciaMarko

https://sonhandopoesias.blogspot.com/

O INVERNO ENTROU AQUI DENTRO…

De repente o calor vai embora

Dando o ar de um frio

De trincar a pele

O inverno entrou aqui dentro…

Me enrolando no cobertor dos seus braços

Me sinto aconchegada

No fogo do seu amor

De repente o calor

De suar a pele com o seu aroma

Inebriante febre

De estremecer os meus poros

Arrepiada nesta estação

Ah! Inverno

Entre

Dentro do meu peito

E me aqueça de você essa paixão…

MárciaMarko

https://sonhandopoesias.blogspot.com/2022/05/o-inverno-entrou-aqui-dentro-um-poema.html

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