#lembranças
Hoje eu queria escrever sobre o amor, mas eu não quero ter que escrever sobre você. Eu não quero ter que lembrar das nossas risadas, nem dos nossos beijos, nem dos nossos olhares apaixonados. Eu não quero me lembrar das nossas promessas, das nossas viagens ou de nossos planos para o futuro. Eu não quero, pois eu não vou suportar esse gosto amargo dessa nossa última conversa ser mais forte do que toda a nossa história.
Hoje eu queria escrever sobre o amor.
Mas eu não consigo.
OrenZ
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Música recomendada: https://www.youtube.com/watch?v=_Spw1jQV4qI
Um vento gentil assopra enquanto as últimas folhas de outono caem. Uma a uma, as milhões de folhas secas preenchem o solo, cobrindo toda a extensão da floresta com várias camadas de folhas, acolchoando as pisadas cansadas de meus pés. Eu tiro alguns segundos para respirar mas um choro inevitável me impede de sentir o frescor da mata.
Eu olhei para dentro da floresta e o que vi foi um reflexo de mim: árvores secas, galhos sem folhas, uma floresta preenchida pelo vazio. Uma melancolia suavemente agressiva impregna meus pensamentos, fazendo vultos do meu passado se manifestarem em minha mente, mais numerosos a cada folha que se desprende de sua origem. Uma solidão implacável me atinge, pois me lembra como esse sentimento incurável é o meu pior e mais eterno companheiro de jornada.
Em meio ao transe imobilizante, forças invisíveis me puxam e empurram para dentro da floresta. É escuro, é excessivamente escuro. Esse lugar não respeita as regras do nascer ou do despontar do Sol, pois o vazio acumulado nas árvores impede que qualquer luz de fora entre. O silêncio também é absoluto e um frio sinistro corre na minha espinha, agora que não tenho mais distrações do som ou da visão, os vultos das minhas memórias estão vivos como nunca.
Eu tento achar uma saída deste labirinto sombrio mas é impossível, algo me puxa incessantemente para o interior mais profundo daqui. Minha respiração está curta e meu peito dói, minha mente só se preenche de culpa. Contornos surgem das sombras e caminham em minha direção e logo reconheço quem são: são pessoas, todos aqueles que um dia eu já feri. Seus rostos tristes nada dizem, seus olhos vazios nada fazem, apenas me observam e param ao se aproximar. Alguns deles ainda choram, são meus velhos amigos, meus antigos amores, minha família. Eu tento balbuciar palavras de perdão e arrependimento mas é impossível, é impossível corrigir o passado.
Tremendo e sem forças para ficar em pé, meus joelhos desabam ao chão. Nesse momento uma única figura se forma à minha frente, mais melancólica que todos, mais machucada que todos os outros. Eu ainda sinto seu coração batendo, pulsando, tentando seguir em frente, mas seu choro forte evidencia toda a sua mágoa de nossos sonhos incompletos e despedaçados. Seus olhos cinzentos e cheios de lágrimas me lembram de uma das piores verdades da vida: reconhecer que amar também significa partir.
Mais imagens aparecem das sombras, dessa vez todas ao seu lado. São nossos amigos, que me observam decepcionados. São seus amigos, que me encaram indignados numa mistura de nojo e ódio. Eu desvio meu olhar para o chão, mas um deles, uma mulher, avança e me agarra pelo pescoço, ela quer que eu veja o sofrimento que causei à essas pessoas, ela quer que eu saiba o ódio que eles sentem por mim. Eu desvio o olhar mais uma vez, envergonhado e culpado, e nesse momento ela usa toda sua força para me levantar e me derrubar de costas para o chão. O impacto me faz perder todo o ar em meus pulmões. Agora com as duas mãos no meu pescoço, ela me estrangula com uma força que só pode ser comparada ao seu ódio por mim.
Deitado sobre o leito de folhas secas, vejo meus fantasmas formarem um círculo ao meu redor. Seus olhos continuam fixados aos meus. Meu corpo não tem forças para reagir, meus espírito não possui mais determinação para isso. Logo acima de mim, me encarando com os olhos mais tristes de todos, com o coração mais frustrado de todos, lá está ela. Tudo o que consigo fazer é sentir culpa. Um último som surdo escapa de minha boca, um singelo, quase inaudível, “me desculpe”.
Minha consciência apaga.
OrenZ, the Pilgrim
Eu não aguento mais, não quero mais.
Ando cansada, sempre com sono e olheiras.
Sobre esquecer…
A gente diz que esqueceu, mas esquecer não é olhar ao redor com aquela mínima esperança de ver a pessoa, esquecer não é olhar para alguém ou algo e lembrar da pessoa, esquecer não é chorar todas as noites por sentir falta, esquecer é difícil, dói e as vezes se leva uma vida toda. Esquecer é lutar cada minuto do seu dia contra as lembranças e ainda assim ver que no fim você ainda é o mesmo e ela já se foi. -Mallu
“Quando não consigo dormir, eu gosto de imaginar eu e você. Sei lá, só achei que você devia saber.”—Vinícius Kretek.
Um amor
E ela amava tudo aquilo
Dos dias que se falavam
Do o jeito louco dele
Até a forma que as mãos se encaixavam
Em sua mente planos fazia
Mas era mais forte que ela
Na hora nenhuma atitude vinha
Mas ele ainda a chamava de bela
Ela não sabia o que dizer
Pois palavras não podem somar
Era uma grande química
Ninguém explica a fórmula desse amar.
-Mallu
Breves momentos deixam eternas lembranças.