#balada
É difícil encontrar um comedor ou viver uma situação cuckold gostosa e espontânea quando saímos juntos, geralmente os machos se intimidam, só são corajosos quando ela sai sozinha ou com amigas, mas não foi isso que aconteceu na sexta-feira, embora algumas coisas favoreceram. Pode não ter sido espetacular mas foi bem excitante.
Estávamos num bar com musica ao vivo, a grande parte das pessoas ficaram fora no estacionamento pois o local é pequeno e para fumar e beber acabam fazendo pequenos grupos de amigos.
Quando chegamos o local já estava bem cheio, publico variado mas muita gente na nossa faixa de idade, 40 anos, sentamos numa mesa praticamente no estacionamento, o garçom demorava demais, nos servia com demora o que me fazia ir até o balcão pedir mais, e numa dessas olhando minha safadinha notei que um cara estava olhando para ela, até que o olhar dos dois se cruzaram, podia ser uma impressão mas ele passou ao lado dela, cumprimentou com um sorriso e aceno de cabeça, seguiu até uma pickup onde se encontravam mais uns amigos, sentou na tampa aberta e as vezes olhava para nossa mesa, no inicio disfarçadamente e depois com mais frequência.
Também repetindo a minha rotina ele as vezes passava ao lado da nossa mesa para ir buscar cerveja ou mesmo ir no banheiro, onde também fiquei com vontade de ir e avisei minha safadinha, ela se levantou e falou que iria também, mas depois iria andar um pouco e fumar, para eu comprar umas latinhas e encontrar ela no estacionamento. Perguntei se ia dar mole para o cara, e ela disse que se ele manifestasse interesse, sim.
Quando voltei já havia outras pessoas sentadas na nossa mesa, antes de comprar cerveja dei um giro com o olhar no estacionamento e não vi minha mulher, mas o cara estava perto da pickup conversando com um amigo embora o olhar dele também percorria o estacionamento mas olhando numa determinada direção, que era onde ficava o banheiro das mulheres. Comprei uma latinha e fui para um canto oposto observando ele e tentando encontrar minha safadinha, a qual eu não tinha esperança de ver ali.
Logo ela apareceu, andou como se me procurasse mas sem muito esforço, acendeu um cigarro e parou num local onde certamente ele a podia ver, e não deu outra, ele se separou do amigo e veio como quem vem comprar mais cerveja, mas intencionalmente na direção dela tirando um cigarro do bolso. Parou na frente dela e pediu fogo, trocaram alguma conversa entre sorrisos fumando, até que ele veio para dentro do bar. Fui na direção dela que andava na minha direção bem lentamente mas ainda sem me ver, nos encontramos e ela com olhar safado disse que ele tinha ido comprar uma cerveja para eles, para eu dar mais uma voltinha e depois aparecer, que queria conhecer ele. Obedeci.
Dei uma volta grande pelo local, voltei para onde a vi sem sucesso, procurei na pickup e eles não estavam lá, porém não estavam escondidos, apenas escolheram um lugar mais reservado, bebiam bem próximos e estavam conversando animados. Resolvi me aproximar como se estivesse procurando ela a tempos, nos cumprimentamos, e ela me apresentou o novo amigo, se chamava Pedro. Ele foi bem cordial, e eu também, ficamos os três conversando um pouco e eles me colocaram na conversa, que era sobre preferencia de viagem, para praia ou montanhas, e sobre as estações do ano, embora tivesse feito um dia quente, naquela hora estava esfriando e minha safadinha se mostrou incomodada, pediu para eu ir até o carro pegar um blusa, falei que iria mas também ia comprar uma bebida para nós, ele educadamente insistiu que iria comprar bebida, mas ela retrucou que não queria ficar sozinha no frio, já se encostando nele, eu falei para não esquentar que eu iria, com isso de maneira discreta dei carta branca para os dois e ainda informei que iria demorar um pouco, deixei os dois meio abraçados e fui.
Peguei a blusa, comprei tres latinhas de cerveja e voltei, ele a abraçava por trás envolvendo-a com os braços, como quem protege do frio, dei a blusa, ela vestiu mas voltou a mesma posição com ele. Ficamos conversando como se fossemos velhos amigos e fosse natural. Conversamos mais um pouco até acabar a cerveja, eles estavam bem a vontade, ela acariciava o braço dela deixando-a encoxar, foi quando o assunto começou a silenciar, e ela sugeriu tomar uma bebida quente, pediu para eu ir buscar. Quando me virei ela falou que talvez fosse dar uma volta com ele, que estariam por ali. Entendi tudo. Comprei somente uma dose de whisky com energético, e fui sem muita espectativa procurar eles, parecia que eu estava num jogo e de esconde-esconde, e eles conseguiram literalmente sumir por quase uma hora. Apareceram de mãos dadas e cara bem safada ambos. Perguntei onde estavam e recebi uma resposta evasiva, acompanhada de risos.
O estacionamento estava quase vazio, a banda já não tocava mais e o garçom fumava na porta não querendo atender ou dar atenção aos poucos que ainda estavam nas mesas. Ela disse que iria até o banheiro porque precisava se limpar, e olhou com sorriso sarcástico para ele. Entramos e pedimos mais duas doses de whisky com energético, tomamos os dois na porta até ela chegar e por ser tarde sugeri ir embora, o que ela concordou. Caminhamos os tres até perto do meu carro, que estava bem distante, na despedida eles se beijaram gostasamente na minha frente, nos despedimos e ficamos de nos ver mais vezes.
No carro voltando ela contou que ele gozou com ela batendo punheta porque estava sem camisinha e que no local que ficaram era perigoso, mas que na próxima ela iria deixar ele gozar dentro e eu ia assistir. Agora só aguardando.
Me sentei, me sentindo estranha, em um canto da festa. Pensei que essas situações sociais não eram para mim. Eu me sentia ansiosa, batendo as unhas na borda da lata de cerveja quente. Me sentei, sentindo um peso nas costas, o odor do lugar me incomodava. Vislumbrei lembranças incômodas, embaladas pela música animada, o que fez tudo ficar bem pior, me vi então em um filme cult: luzes escuras, cores estranhas um misto de vermelho e roxo e verde, abraçados por uma neblina da fumaça dos tantos cigarros que ali queimavam.
Que me queimavam também.
Senti uma chama se acender em um pequeno canto do meu cérebro. Queimando tímida, irradiando seu pequeno calor e fervendo alguns neurônios cansados. Eu quis fugir da conversa, admito. Queria ficar quieta. Precisava de silêncio para pensar, mas então, tive medo de ir embora e me ver sozinha. Me ver sozinha e ver algo que eu não gostava em mim mesma. Guardei então, essas ânsias, bem dentro de minha traqueia, e as afoguei com mais um gole da cerveja, enterrando-as estômago abaixo, bem onde eu não poderia olhar.
Quis que meus órgãos fossem cúmplices de meu crime.
Esqueci que crise alguma vai embora numa festa.
Fechei os olhos e me balancei ao ritmo da música: para lá e pra cá, titubeando os dedos na lata de cerveja, balançando os pés. Minha mente se movia ao contrário, se rebelando contra a gravidade e indo para o lado oposto, contorcendo-se feito um peixe fora d’água, doido para respirar, vendo seus últimos minutos de vida, na tortura eterna do fim. A eternidade que dura alguns segundos. Mas eu queria sorrir, eu juro. Eu queria dançar e beijar, bem no meio da pista de dança, eu queria ser o próprio carnaval tamanha alegria, mas me sentia feito Quarta-Feira de Cinzas, a ressaca antes mesmo do primeiro gole de álcool.
Esses pensamentos não levam a nada. Para lá e pra cá, tentando entrar no clima, tentando fazer parte do ritual, da dança, do grupo. Tentando me enturmar, ainda que eu me sentisse em uma outra frequência, onde eu não pudesse ser ouvida. Uma outra realidade enxergada através de um vidro. Eu sou espectadora aqui.
Sinto a pele pulsar de agonia, esperando as horas se dobrarem e o dia amanhecer. Esperando que seja apenas a cerveja que não bateu bem, me debatendo junto com os ponteiros do relógio. Sentada em um canto da festa, observando as gargalhadas pairarem pelo ar, feito pássaros pousando nos fios do poste da rua, querendo tocar os próprios fios, e absorver a eletricidade de toda a empolgação.
Me vejo em outro mundo, eu sou de outro mundo: meu planeta está depois de Plutão, tão distante do Sol e do calor dessas coisas corriqueiras.
Acendo um cigarro para me distrair e a fumaça dele se enturma com a outra que já pairava ali. Me sinto invejosa, uma bolha de ressentimentos que eu só destinarei a mim mesma. Meus olhos se fecham, e eu vejo o nada, vejo tudo, vejo o que não queria lembrar, meus pensamentos me enganam, minha mente está tramando contra mim. É só uma bad, é mais que isso. Porra, você vai acabar explodindo assim, menina.
Vai com calma.
Segura a onda, eu lembro de um amigo dizendo. Segura a onda, a bad vai passar. Tudo passa, mas eu ainda penso no peixe se contorcendo fora d’água, pensando na eternidade finita do seu pequeno gigantesco tormento. Guardo certos pensamentos para mim, tento afogá-los de novo com cerveja, tento sufocá-los com o cigarro. Sinto meu corpo se retraindo contra si mesmo. As células de fora, as células da pele, agora querem voltar-se para dentro, escondidas, dentro da casca. Meu corpo é seu refúgio e eu sou aquela que fica para trás.
Penso em amores passados, penso em amizades perdidas, penso nas esperanças que morreram no caminho, padeceram de sede, enquanto eu cruzei esse deserto por anos. Penso nos mistérios dos céus, e do fundo do mar, no sal das lágrimas e do suor, me vejo mergulhando em mim. Embaladas agora por uma música meio agitada, aquele eletrônico triste, feito para agradar pessoas como eu.
Um cruzar de pernas e o olhar desinteressado, disfarçando certas tristezas com tédio, olhando a vida por esse espelho, esperando que os sentidos possam finalmente abraçá-la. Cruzando pela noite meu deserto, procurando o oásis de uma vida despreocupada, de uma noite tranquila. Penso que esperarei o próximo DJ para me levantar e sigo esperando, enquanto a vida passa.