#projetoartelivre

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saudade do teu lábio que chupa

do teu toque que marca

da tua língua que queima.

saudade do amor

na cama no chão

[só não no peito]

saudade da dor

na cabeça no corpo

[só não no peito]

saudade

na cama vazia

na respiração acelerada

[só não no peito]

eternidadepoetica/Instagram

você não perguntou a minha cor favorita 

ou se existe uma música da qual eu nunca enjoaria

não me falou sobre o significado da cicatriz no seu braço esquerdo

nem sobre seus sonhos esquecidos de realizar 

você não perguntou sobre os meus pais

nem me contou sobre as suas más escolhas 

ou se gosta do mar 

não me falou se conseguiria resolver um cubo mágico 

nem se consegue fazer truques estranhos com a língua

ou se existem fotos suas no seu celular fazendo caretas engraçadas

você não perguntou se eu prefiro frio ou calor

nao me disse se teus medos sufocam a sua coragem 

nem se consegue disfarçar seus humores e intenções

você não perguntou se eu prefiro cachoeira ou trilha

não me disse o que você sempre procurou encontrar 

nem falou sobre coisas das quais você não entende realmente 

você não perguntou se eu sou das que choram ou vão pra uma festa 

não quis saber se eu simplesmente enlouqueço as vezes 

ou se meus poemas são uma salvação como das que tiram a faca do pescoço

você não perguntou se eu sinto medo do escuro 

nem me contou se sumir é ou não um desejo seu 

ou se seu peito é desses frágeis demais

você não perguntou se eu tenho um lugar seguro 

nem se penso nessas pequenas observações que engolem nossas conversas

não me falou se me ligaria novamente

você não perguntou nada sobre quem eu sou 

nem me disse nada sobre quem você é

não me pediu parte minha pra ser sua 

você não me respondeu minhas tentativas

não me jurou amor e paz 

nem me falou sobre ficar e nos arriscarmos

você não me conhece

nem eu te conheço

e esse desencontro é uma solidão nos meus dias.

— eternidadepoetica/Instagram

vó me contou outro dia sobre um amor da vida dela

desses amor que acaba com a gente

antes mesmo de se acabar em desamor

vó me disse: filha não deixa nunca uma pessoa saber que você ama mais quem ele é do que quem você mesma é

vó nunca foi de dizer sobre amor

mas aquele dia ela disse.

ela é linda, minha vó

sempre foi linda

e eu sou linda, vó me disse

mas mesmo sendo linda minha vó me contou a experiência com o horror

das mãos de aço

dos braços cativos

me contou de um amor

desses que acaba com a gente

e contou e contou pra mim

sobre a dor

dessas que acaba com a gente

vó me olhou, eram 5:48 da manhã

o sol quase nascendo

e vó falando sobre cansaço

tocou meu cabelo

falou

filha eu te amo muito

eu sorri

e vó foi dormir

pensei

puta merda

a vida é uma agonia

e dessas que acaba com gente.

eternidadepoetica/Instagram

ele diz que minhas mãos são quentes

[são dedos solitários quando não o tocam]

disse sim pras minhas besteiras

como um condenado a estar ao meu lado

[eu tava tristonha e sozinha]

lá de pirituba e com uma dessas manias de falar muito o que pensa

eu aqui desse lado quase apaixonada

[de repente olhos verdes pareciam um pouco mais bonitos]

disse que também estava tristonho e sozinho

pensei puta merda eu te desejaria bom dia em todas as manhãs

[eu quero ser dele eu quero ser dele]

com um violão escuro e voz grave demais

eram 5:26 e eu ouvindo o que eu não conseguia não escutar

[eu acordei querendo lhe contar o bicho da paixão que eu conheci]

eu quero ser dele eu quero ser dele

que vontade danada

de saber se ele também seria meu.

eternidadepoetica/Instagram

tuas mãos como tatuagem na minha pele

só sinto você nas pontas dos meus dedos

roubando meu tato pro teu corpo

como ler em braille nas tuas costas largas um irremediavel desejo

de ser meu novo pecado.

eternidadepoetica

Eu não sei se eu quero isso pra mim, entende? Eu sei, eu dormi por muito tempo, sonâmbula pelos espaços, sonhando acordada, me esforçando para manter os olhos fechados, eu sei, eu tô devagar. Eu queria ser mais que isso, eu queria ser melhor, eu queria ser minha própria versão idealizada, eu queria ser o que eu sou no quem dera. 

Quem dera se eu fosse outro corpo, outro rosto, outra mentalidade, mais maturidade. Quem dera se eu tivesse a força, a gana, a garra, quem dera se eu tivesse mais agilidade, que minhas costas não doessem, que minha visão não me falhasse. 

Isso não é pra mim, eu me afogo nos milhares de “e se…”. Meu pulmão se enche dessa água suja e tudo me arde, tudo me dói. Minha pele se arrepia em meio minhas piras de me imaginar em outra vida. Se eu fosse mais esforçada, sabe? Se eu fosse mais gente, mais viva…

Mais acordada. 

Eu dormi por muito tempo, mas ainda estou sonolenta, meus olhos semicerrados não aguentam essa luz toda, queria viver no escuro do meu quarto na caverna daqueles que já desistiram e deus me perdoe dizer, mas até disso eu sinto falta. 

O vazio faz falta, porque querer é perigoso. 

Eu morro de medo de palavras como esperança. 

Eu quero ser outra coisa, quero me derreter em um líquido abstrato e tomar nova forma, nascer de novo numa noite qualquer e ter outra cabeça, eu quero que meus neurônios se reorganizem até que eu tenha orgulho de mim. Até que outras pessoas tenham orgulho de mim, até que essa nhaca de fracasso saísse do meu corpo num banho quente. 

E se eu fosse gente? Eu vou me afundando nos “e se…” como quem afunda em areia movediça, como quem se debate só pra afundar mais. Como quem reza por outra carne, outros órgãos, outra vida. Isso não é pra mim, essa perfeição toda. E se fosse? E se eu alcançasse, e se eu chegasse lá? E se eu caminhasse para chegar lá? É preciso mover as pernas, é preciso se movimentar, e se eu fosse inspiradora, talentosa, e se eu causasse um sorriso só com um olhar? 

Quem dera eu pegasse nas mãos essas vontades que pairam por minha cabeça como nuvem carregada, que apenas ameaça chover e nada de água. Eu quero arrancar com as mãos, sentir na pele, tocar as ideias abstratas. Quem dera ser outra, quem dera ser melhor, quem dera um novo cérebro, uma personalidade mais potente. Quem dera sentir nos dedos, quem dera se entrasse na pele. 

Eu fico refém da linguagem, esperando que as palavras façam tudo por mim, as palavras engavetadas, que mofam nos armários, os livros inacabados e os poemas jamais cantados. Querendo que as palavras me guiem até esse paraíso por mim sonhado em noites insones. Esperando que as palavras me salvem de qualquer inferno particular que eu mesma construí. 

De tanto “quem dera” nada se deu. 

Nada cedeu

porque eu também não cedi. 

De tanta esperança engavetada, mofada, estragada no fundo da geladeira, eu apenas esperei virar outra. A minha versão ideal lá do mundo das ideias de Platão, eu queria arrancá-la de lá, fundir-me a ela. Ser outra. A escritora do mundo ideal, a mulher do mundo ideal, preenchida de vontade e orgulho do que é. Sequestrar essa eu do mundo ideal, colocar ela em meu lugar.

Eu me apeguei no “e se…” como um pedaço de madeira de um navio naufragado, como minha esperança de não me afundar, de não sumir, de não ser engolida pelas águas violentas que correm em minha própria cabeça. 

Na linguagem eu me aninhei, busquei abrigo, comida e água, busquei segurança. A linguagem, me ajudou até certo ponto, mas daqui em diante, meu bem…

“agora você se vira”

Eu assombrei os espaços, tropecei nas vontades, vomitei desejos que não caíram bem em meu estômago. Eu assombrei os espaços quando eu não me fiz ser enxergada. Me apeguei a cada palavra, quis que as frases tecessem uma corda até o mundo real, até o olimpo onde os vivos estão. 

Eu quis que minhas palavras falassem por mim, que alcançassem outras mãos, ouvidos e olhares, que me levasse até outros corpos, outras mentes. Depois eu entendi que eu deveria guiar as palavras, não o contrário. 

Sonâmbula pelos dias, eu as guiei pro lado errado. 

Querendo ser outra, caí num mar torpe de desejos não realizados, vontades afogadas. Querendo ser outra eu quis sair de minha pele, rasgar a carne no meio, e correr em espírito por aí, ser imaterial, evaporar no ar, se desintegrar em bilhões de partículas. Querendo ser outra eu boiei em mar aberto, sem nenhuma terra à vista. 

No desespero da sede, eu bebi a água salgada deste mar. No meu “quem dera” do tamanho do pacífico, confundi melhorar com me odiar. Mas isso não é pra mim, essa roupa desconfortável da autopiedade, esse tecido duro e áspero de pura inércia. Essas horas que correm por minha pele com suas garras afiadas, e eu só consigo boiar, inerte em ondas calmas, quarando no Sol a pino, sentindo a pele ressecar, queimar, esperando ser resgatada.

Quem dera eu fosse mais pró ativa. 

Quem dera eu abstrair essas coisas, quem dera a porra do pensamento positivo, quem dera eu olhar pro espelho e gostar do que vejo, quem dera minha mente colaborasse mais comigo. 

Meu bem, é tão mais fácil falar. 

E se eu fosse gente, e se eu fosse gente que faz e acontece. Eu vejo as pessoas apenas fazendo e eu quero isso, eu juro que eu quero, eu só não consigo. 

No fundo do mar jazem esperanças naufragadas, esqueletos de desejos não realizados. No fundo deste mar são esquecidas as milhões de possibilidades, perdidas para sempre minhas mil e uma vontades, entre ser alguma coisa e não ser absolutamente nada, acabo sendo todo dia, por mim mesma, afogada.

Olhando de fora, nada faz sentido mais
empunhando um olhar decidido no espelho,
penso em meus constantes pesadelos
que se esvaem quando abro meus olhos.
No despertar cheio de alívio, acompanhado da luz da manhã
eu me pego, serena, por um breve segundo
depois, tudo me pega de volta
as gigantes ondas se quebram sobre mim.
Nada mais faz sentido, mas minha lógica luta para se manter de pé
pessoas se ajoelham em suas rezas privadas
cada uma para o deus que lhe convir
cada uma carrega um olhar desconfiado
toda conversa tem morrido pela boca
toda conexão é quebrada antes mesmo de existir.
Nada mais faz sentido, mas a mente se esforça
em minha dificuldade de ser gente, sou cativeira de mim
em minha dificuldade de alcançar o outro, me silencio pelos dias
tudo faz falta, nada sacia.
Na beira da estrada, jaz um quê de esperança
atropelada novamente, por meus gestos estabanados
Nada mais faz sentido,
mas a lógica se pega acuada, a lógica queima no Sol a pino
minha pele se resseca, meus dedos tremem
cada um reza do jeito que dá, do jeito que pode
melhor se juntar as mãos, melhor se dobrar os joelhos
melhor ainda se tiver fé, melhor se se castigar.
Olhando de fora, eu até quero estar dentro
olhando de fora, um pouco de ignorância não cairia mal
eu fico acordada por noites, tentando parir qualquer coisa
de paz de espírito
meus olhos inquietos, passeiam pelo quarto
minhas mãos não se aguentam sozinhas
eu fico acordada por noites em um mal sucedido parto
fingindo que reconheço a mim mesma
eu esqueço como cheguei até aqui.
Olhando de fora, sentindo o sangue correr nas veias
sentindo minha mente correr para longe
correndo das responsabilidades, minhas pernas doem
parada no tempo, e as horas correm
meu eu derradeiro, se arrasta com os dias
eu ouso tomar tento, mas tudo me desce mal:
um enjoo crônico no estômago
desses pesadelos que tomam vida no meu quarto,
das rezas sem fé à deuses de bronze,
da fé que deveria ser em mim, pra variar,
dos sussurros inaudíveis de sonos perturbados
pesco, a mim mesma, em um mar inquieto;
caçadora de mim, coloco-me armadilhas.
Olhando de fora, eu caio em um paradoxo:
deus me livre, mas quem me dera eu me encontrar.

Eu estava na minha melhor fase, o que não queria dizer muita coisa quando se comparava com o resto, mas ainda sim, era alguma coisa. Bom, eu já conseguia me suportar, eu gostava de mim, na maior parte do tempo e se odiar já não estava em nenhum lugar dos sentimentos que eu tinha por mim mesma.

Fazer o mínimo por mim era uma grande coisa.

Eu que nunca me coloquei em qualquer lugar perto das prioridades. A gente faz o que pode e o que não pode, ignora e finge que nunca foi necessário. Eu estava na minha melhor fase quando deixei de precisar da opinião de terceiros apenas para ter um lampejo de amor por mim.

Amor próprio… tive que ir atrás do meu em algum lugar escondido nos infernos da minha mente. Algum purgatório escondido no terceiro plano em baixo da massa cinzenta, no lóbulo frontal, em um poço do sistema límbico, enterrado à sete palmos em um pântano esquecido por algum deus. Faz sentido dizer que eu o enterrei lá, na casa do caralho, na merda do meu cérebro. Eu entrei na minha melhor fase quando consegui sorrir pro espelho.

Parece tão pouco, quando se coloca assim, na palma da mão, quando se tenta racionalizar, quando se esquece do passado doloroso. Parece pouco mesmo, se afastar de tudo apenas para se aproximar de si. Bom, eu já olhei meu ossos como grades de uma prisão orgânica, e a mente como um carcereiro que não dorme nunca, eu me afastei de tudo apenas para olhar para mim por mais de alguns segundos sem sentir raiva.

Fazer o mínimo já é grande. O resto é o olhar dos outros que não importa, na realidade.

O olhar que dura alguns segundos e apenas enxerga a carne e esquece da fusão nuclear de sentimentos correndo por baixo da pele e explodindo em trilhões de partículas no cérebro, contaminando tudo. A imagem, no final da contas, importa. Viver sobre esses preceitos nos quebra, meu amor próprio foi atropelado, em uma rodovia, jogado no meio fio, quando eu não olhei para o que realmente importava.

Mas eu estou em minha melhor fase, meus ossos estão fortes. O que quer dizer muita coisa quando se compara com o resto, quando se olha para as lembranças, o passado serve de comparativo, mas eu não sou apenas meus machucados, nem meus traumas. Me sento na cama pela manhã, tomada por uma boa sensação, ainda que eu não sinta essa alegria o tempo todo, eu aproveito, toda vez que ela vem. Na minha melhor fase, eu cato os bons momentos como pedras preciosas jogadas na merda, dinheiro achado na sarjeta.

Em minha melhor fase, pensei em cuidar de mim, como um bebê que chega agora neste mundo, eu ainda não sei de tudo, minha visão é turva, meus sentidos aos poucos se aprimoram, eu seguro em minha própria mão para que eu não caia, em meus primeiros passos, meus futuros passos. Fazer o mínimo é gigante.

Eu não quero produzir apenas quando eu estou mal. Quando estou deprimida, para baixo, em crise, prestes a arrancar os cabelos, a cortar a pele apenas para sentir algo.

Como se talento, criação e sofrimento fossem a mesma coisa.

Talvez a arte seja uma forma de se fazer ouvido, de traduzir as inquietações e o cérebro que se contorce, para o papel. Verdade é que Van Gogh não era talentoso porque cortou a porra da orelha fora e depressão e transtornos mentais não ajudam tanto na arte como se diz por aí.

Honestamente, quando menos produzi foi quando estive pior. É difícil criar uma obra de arte estando na cama, talvez Frida Kahlo tenha conseguido, mas honestamente, eu não estou nesse nível ainda.

As pessoas não sabem do que falam. As pessoas romantizam cada coisa…

Eu não quero acreditar que escrevo bem apenas quando quero morrer, e a arte seja um balde onde vomito tudo aquilo que não me faz bem, a privada do banheiro da balada onde você coloca pra fora todo o exagero do resto da noite, sem pensar, sem refletir, sem criar por querer fazer algo que valha a pena.

Bom, eu já passei dessa fase. Não quero arrancar os cabelos, ou morrer, ou sequer ficar na cama. Não quero perpetuar a ideia de um comichão no espírito pelo bem maior.  Não existe bem maior na doença. A arte está do lado oposto.

A verdade é que Van Gogh criou coisas incríveis apesar de seus demônios, não por causa deles, não vamos dar tanto crédito assim para a dor. Quando estive internada, meu psiquiatra me falou para canalizar essa dor em algo criativo, algo produtivo, e isso me ajudou, é verdade, mas não é esse motivo pelo qual eu estou aqui ainda.

Esse não é o motivo pelo qual escrevo.

As ideias não brotam da terra infértil que é a depressão, as ideias lá, costumam morrer, antes mesmo de suas raízes se espalharem por debaixo da terra. Criar tem algo como derramar parte de nós em algo tangível, palpável, imortalizado no texto, na pintura, na música. Transferir-se para algo material, até que o outro possa olhar e então não é mais nosso, e há uma beleza nisso.

Acredito nessa beleza, acredito nesse processo, lento, que cozinha na mente até pingar no papel. Todo o resto é besteira.

Todo o resto é a orelha de Van Gogh que foi cortada como um sacrifício para algum demônio da arte. E aqui, eu reviro os olhos, aqui eu saio do recinto. Eu não quero me sacrificar mais, eu já tentei e só ganhei uma internação e acompanhamento psiquiátrico.

A arte é mais que isso. Eu quero ser mais que isso, ainda que meus textos e histórias não sejam felizes, ainda que minha mente crie as piores histórias, ela está em paz e é por isso, que as histórias transfiguraram-se em palavras num texto.

você não encontra um culpado, sabe?
é só… como as coisas se tornam. elas são complexas. são vários fatores embolados, que rolam pela história e desengata nessa merda toda.
existem os culpados de sempre, mas no fim:
eles são tão abstratos, não é? quem são eles?
quem são os vilões? e nós sequer somos mocinhos?
não.
mas eu posso te dizer isso, talvez sejamos vítimas.
e não há nenhum conforto nisso apenas a certeza dolorosa do que se esvai por entre nossos dedos.
nós somos corpos com hemorragia interna, descoberta tarde demais
a gente não sente até não conseguir sequer respirar.
daí você quer avisar as pessoas que elas estão sangrando por dentro
mas elas irão ignorar até que a primeira vertigem lhes acometa
e você vai poder culpá-las? ora, toda hemorragia interna é um conceito abstrato…
até não ser mais.
algo se perde na linguagem, na comunicação, não há união, mas desesperos individualizados.
a verdade é que eu cansei de encontrar o culpado. eu só quero cauterizar a porra da ferida.
alguma coisa precisa mudar, talvez seja mais micro do que qualquer coisa.
talvez a dor seja bem aqui dentro, talvez a inércia contribua um pouco…
é só que… porra, estamos tão cansados.
estou falando de um pequeno abcesso no fundo da garganta, do dente inflamado
a infecção não tratada que só cresce e se espalha
estou falando de negligência
porra, eu estou falando de gente morrendo!
estou falando de um sistema todo se quebrando: de uma falência múltipla dos órgãos.
estou falando desse abcesso enorme na boca do estômago, dessa carne podre.
estou falando de radicalismo.
e a gente já passou do momento de ter medo dessa palavra.
da insurgência, da desobediência… eu não quero ter medo de um caos organizado.
estou falando de arrancar pela raiz, cortar o membro gangrenado.
é isso ou o sangue continua a jorrar.
essa merda toda não é de hoje, é só que agora a infecção desceu da garganta, pela laringe, chegou no estômago, pulmões e fígado. aí, meu bem, aí já era.
a verdade é que estamos na porra da uti e algum carniceiro filho da puta quer desligar os aparelhos, vender nossos órgãos, furar a fila do transplante.
a metáfora ainda persiste, mas não se engane, gente morrer transborda dela.
a metáfora é só um jeito melhor de dizer que estamos fodidos,
um jeito mais bonito, mais palatável.
é só para gente não esquecer que tumores também crescem em silêncio.
bom, parece que o cirurgião chefe desse hospital esqueceu um bisturi em nosso estômago.
agora é tentar não morrer.
agora é lutar por justiça.
justiça…
justiça é um conceito abstrato demais pra gente entender. e só uma forma de dizer que tínhamos que ter o que é nosso por direito. que é nossa obrigação ter!
que é nossa obrigação viver bem.
que essa chaga não deveria continuar crescendo.
que nossas vidas estão em risco, e tem gente por um fio.
talvez aqui as metáforas acabem. um poema não pode seguir por muito tempo.
nem tudo é poesia, isso aqui é só desgraça mesmo.
cortes na aposentadoria não é poesia;
gente preta e favelada morrendo não é poesia;
universidades fechadas não é poesia;
desistir de lutar contra o trabalho escravo não é poesia;
feminicídio não é poesia;
a sangria não para. é interno, mas mata.

um corpo fechado, encostado na parede
eu brinco com meus cabelos
todas as vezes que não sei o que dizer
retraída na cadeira do bar
mergulhada em mais um copo de cerveja
na voragem do momento
eu desvio meus olhos castanhos
um corpo fechado espantando possibilidades
uma velha cantiga de menina ecoa
no cérebro:
quem eu sou agora?
e o que você consegue ver?
na tez eu enterro vontades
embaixo das cicatrizes das rejeições passadas
um corpo fechado, rígido na cadeira
para não dizer o que quer, mais um gole na cerveja
para gritar e queimar em cada segundo do presente
a chama acesa em meu peito
junto do cigarro, se evapora a espontaneidade
olhos castanhos e a perna cruzada
timidez definitivamente não é a palavra
um corpo fechado não parece querer nada
na voragem da insegurança
meus dedos batem na borda do copo
minha boca sorri engolindo palavras
e a distância cada vez aumenta
um corpo fechado, os pés cansados
os braços não se estendem
para quem está do outro lado.
disfarça costume com mais um trago
e queima a cachaça, boca adentro
as horas correm me deixando para trás
quando vou dizer o que eu quero
já passou o momento.

Em noites como essa, a mente nunca é confiável. O calor na janela e um baita peso nas costas. A razão vai dançar no telhado do prédio, flertando com o abismo, rindo diante a possível queda.

Brincando entre saudades e o se-eu-tivesse-dito-isso, se-eu-tivesse-feito-aquilo entalados na garganta feito pedaços de comida que descem no lugar errado, mas não engasga e nem mata. A garganta arranha nas possibilidades largadas no caminho.

A confiança senta-se no parapeito da janela, sem medo de estar no quinto andar. Dançando ao som de Isaac Hayes e mexendo a cintura, animada. Disfarçando o medo com inconsequência, sentindo a noite adentrar os poros.

Estou nua em meu quarto, fumando mais um cigarro tentando não me afogar em mais uma dessas noites, a solidão de um sábado, enquanto a mente dança com o diabo.

Insegura de meus adjetivos, eu apenas consigo listar meus defeitos. Confesso que sinto saudades de afetos óbvios demais.

O óbvio me falta.

A consciência se acovarda e se esconde embaixo da cama, enquanto no final da garrafa de vinho, eu esboço um sorriso que de forma alguma é fruto do meu mérito. A razão urra no telhado, de olhos fechados, enquanto se equilibra bem na borda: apenas para sentir alguma coisa.

O que a gente não faz para se sentir vivo? A gente é capaz de morrer por isso.

Noites como essa e os gatos arruaceiros estão revirando as latas de lixo e mãos estão sendo dadas em algum lugar dessa cidade, um orgasmo explode e beijos se desenrolam, enquanto línguas se abraçam.

A solidão come solta. A solidão me devora viva. Mas a confiança finge costume: agora, sem ninguém aqui, tudo fica mais fácil. É fácil ter coragem, quando ela não é necessária. Esses nós na garganta me fazem tossir enquanto a pele quase pinica por um toque quente e um olhar que possa arrebatar certos devaneios inúteis, expurgar certos demônios.

A confiança se abraça, com frio. Do quinto andar, qualquer queda parece um vôo raso. Uma mente transtornada jamais pode vencer a gravidade, mas a razão se perde tentando rodopiar no telhado, querendo tocar o céu, atingir algum paraíso particular. Estender os braços para cima e, pela ilusão de ótica, alcançar as estrelas.

Certas vezes o mundo não precisa fazer nada, sozinho a gente consegue se machucar. E a consciência, amuada, se retrai embaixo da cama, pedindo uma trégua nesta festa rumo a insanidade.

Ah, mas tudo que eu não disse e deixei de fazer, aquilo que me escapou… Eu me perdi nas entrelinhas. O óbvio me falta, mas a masturbação reflexiva que não leva a nada jamais me escapa, eu questiono tudo que eu sou apenas para ser mártir de porra nenhuma.

A mente trabalha e trabalha, minha mente se revira feito um saco na água quente. Meu corpo é gelado, os abraços estão em falta. Tudo vai quarando na madrugada, mergulhando em mim, quase morro afogada.

Passei esses dias na cama, e você já sabe o motivo;
fumei uns dois maços por dia, e
bebi um vinho velho que estava na geladeira
comi mal, não bebi água
vi vídeos inúteis no youtube e ignorei ligações
no vácuo de mim mesma,
no vazio gigantesco de meu universo,
retornei à gênese dos planetas
sendo compostos pelo pó das estrelas.
Não há luz emanando de mim,
apenas um resquício da radiação
de uma explosão cósmica, vinda direto
do universo.

Deitada na cama,
perdendo toda noção de gravidade em mim
deixando os pensamentos flutuarem para longe:
eu sou pó das estrelas, e existe um buraco negro, em mim.
Sugando toda luz ao seu redor, a leve luz que viaja pelo espaço
e denso, destrói tudo que encontra, sendo visível justamente por não ser,
sendo incrivelmente belo a distância
a incrível trágica beleza, de tudo que simboliza um fim.

Me desfiz em poesia.

Me refaço em antimatéria.
Me refaço em explosões atômicas
em cada esquina.

Não nasci para rimar.

Nessa hora, o cérebro muda sua química
e abaixa a taxa de serotonina,
vitamina D e endorfina.
Brutalmente, o cérebro se contorce
feito um bicho vivo na panela fervente.
e minha pele é uma roupa apertada
que eu me vejo obrigada a usar,
desconfortável demais para me mover,
justa demais para respirar.

De uma explosão cósmica,
eu sou pó das estrelas.
Me refaço agora, apenas para desfazer no final,
explodir dentro de mim mesma,
uma pequena prova viva da teoria do Caos:
um sistema dinâmico e complexo
instável na evolução temporal.

Tudo se desfaz…

Minhas inseguranças se entalam na garganta,
enquanto grito, tentando recuperar de volta minha autoestima
essa coisa de amar-se por completo é tão difícil
e agora qualquer suspiro é bem vindo.
Quero recuperar o fôlego,
o hoje é só mais uma volta que a Terra deu sem si mesma
quero fechar os olhos, descansar as retinas.
Um último suspiro antes da colisão final
na matéria mais densa, localizada em meu centro
nenhum som se propaga no vácuo,
de encontro ao meu buraco negro,
eu flutuo em meu espaço.

Lembro que sempre tive uma baixa estima de mim mesma. Veio desde pequena, esse sentimento de não-o-suficiente. Minha memória mais viva disso é ter chorado no banheiro da escola, na sexta série. A sala de aula toda gritou em uníssono meu apelido e eu não aguentei. Me vi quebrando em milhares de pedacinhos e os arrastei até o banheiro, onde eu chorei e me perguntei, pela primeira vez, se eu não era bonita o suficiente. Eu certamente não era igual as outras garotas, bonitinhas, em seus corpos magros, cabelo liso e boa personalidade. Eu era quieta, não sabia me portar, não sabia fazer amigos, não sabia dizer a coisa certa. Eu e minha cara séria, meu jeito aéreo, desajeitado.

Não melhorou muito nos anos seguintes quando eu notara que todas as garotas já tinham beijado, menos eu. Lembro de querer, mas ter medo de rirem da minha cara, de algum menino rir da minha cara por considerar um beijo dele. Lembro que um deles riu, lembro que eu chorei olhando no espelho do quarto. Eu era adolescente, e adolescente geralmente sente essas coisas, esse desalinhamento com o resto do mundo, mas eu já era precoce nesse negócio de sentir e eu sentia que não havia lugar para mim, nem entre aquelas que nem lugar tinham.

Enquanto a de outras garotas queimavam, minha confiança era um vela frágil, resistindo a um terrível vendaval. Ela fraquejava, solitária, em algum canto de minha mente, falhando em esquentar o quarto, meu cérebro.

Na faculdade, pude notar que minha personalidade ficou mais forte, não muito, mas eu já não me sentia tão fraca, não me questionava sobre meu valor diante do espelho. Jurei que iria experimentar de tudo, viver de tudo, eu me achei bonita e lembro de ter pensado que eu poderia tocar, pela primeira vez, esse mar que tanto conseguiu mergulhar, enquanto eu não saía da praia.

Minha confiança, queimou um pouco mais forte, clareou o quarto, esquentou meu corpo, meu cérebro. Eu gostei de mim, até ter adoecido.

E então, o quarto ficou no mais completo breu.

Enquanto meu corpo emagrecia pela falta de apetite e eu recebia esses elogios de como eu estava mais magra e bonita, eu me sentia podre por dentro. A vela que flamejava em meu quarto não mais queimava, sua fumaça serpenteava o ar, procurando uma saída. O cheiro de parafina irradiava até meu olfato e eu me senti triste.

Já no crepúsculo da juventude, quase sendo mulher, eu voltei a me comparar com os outros, seus corpos e desenvoltura. A confiança que funcionava quase como um imã, para que todos os olhassem, me faltava. Eu tinha dificuldades nos bastidores, olhando as personagens principais tomarem conta dos holofotes. Meu corpo deixou de ser o problema, talvez o problema fosse todo o resto e a palavra beleza era um conceito que eu não mais conhecia, e eu confundi desejo com amor, admiração. Mas o desejo se dissipa, evapora, queima, e os velhos vazios só fazem aumentar. Mesmo quando melhorei e o corpo mudou. Entendi os elogios como uma forma de quebrar o silêncio e os carinhos como forma de matar o tédio e eu juro ter tentado gostar de mim como eu queria que os outros gostassem.

Minha vela solitária tornou a se acender, mas tímida, corria sempre o risco de apagar. Meu vendaval  era mais forte que seu calor e as janelas estavam completamente abertas. Minha confiança era tão frágil quanto meu ego, sempre faminto. Minha beleza tão derradeira quanto uma noite qualquer e minha pele carregava essas inseguranças que quase saiam dos poros e, gotejavam, deixando um rastro onde quer que eu fosse.

A única coisa que sempre me senti orgulho de fazer foi escrever, estava cansada de lutar contra meu rosto e corpo, eu queria ser lida, minha voz seria o suficiente, o resto era consequência. Por isso o desejo se tornou tão banal para mim, se eu era bonita, não importava tanto, eu apenas queria ser lida, e eu conseguia queimar toda vez que escrevia, minhas histórias são minhas cinzas, que flamejaram pelas madrugadas, em uma vela solitária que conseguiu resistir a mim mesma.

Aqui estamos nós dois
deitamos em uma cama desconfortável
feita de pregos e fantasmas do passado
os erros se arrastam pelo chão gelado
como correntes que se sentem presas
em corpos cheios de pecados.
Deitados de frente para o outro
nos enxergamos pela primeira vez
e nos conhecemos depois de tantos anos
como se antes, eu apenas soubesse teu nome
a cor dos teus olhos e sobre você,
apenas alguns fatos.
A visão é triste, eu confesso
você é um espelho dos anos deixados para trás
quando o amor era o analgésico de um sintoma
de uma doença mais grave
que eu nunca poderia confessar.
(Tudo tem que ser pelas razões certas, até amar.)
Estou quase envergonhada pela melhora que tive
pelas crises que ficaram para trás
enquanto você me diz que está parado em 2017
usando a mesma camiseta velha da culpa
e uma postura que não te serve mais.
Eu estive errada, é verdade
enxerguei suas rachaduras como quem encontra
alguém familiar em uma multidão
e tentei lhe curar, usando como um remédio
minha própria vitalidade.
Pensei em te ligar no mês passado
vi algo na TV e me lembrei de você
e de uma piada nossa que hoje não tem mais graça
lembro de ter ficado preocupada
e na realidade, não posso fazer nada
se meus amores do passado ainda ficam costurados
em algum lugar do cérebro como panos remendados
Pensei em saber como você tava, ainda que eu já soubesse
a resposta. E então haveria um silêncio na linha
porque eu não saberia mais o que dizer
porque aqui estamos nós dois
e enxergando a verdade, ninguém gosta do que vê:
você se lembra que está empacado
e eu me lembro dos erros do passado
e me pergunto se eu já fui algo além de uma distração
de suas próprias desgraças para você.
A tristeza ronda a cama, desconfortável
como uma cobra azulada, da cor dos seus olhos
opacos.
Essa amizade já estava fadada ao fracasso
quando eu senti o primeira sinal de pena, rondando a garganta
e você quase sente raiva, por eu não ter ficado.
(E os olhos se encaram, raivosos
e as retinas inutilmente, batalham.)
Deitados em uma cama feita de arrependimentos
eu lembro que quis curar o incurável
mas os céus seguem caminhando bem acima de nós
e eu finjo não estar desconfortável
quando acendo mais um cigarro
cujo o gosto é demasiado amargo.
Você me conta que agora está internado
que gosta de estar rodeado de pessoas piores que você
eu digo que estou estudando e escrevendo finalmente
aquele livro que nunca começava a ser escrito
você atesta o óbvio “estamos em fases diferentes”
eu não quero soar decepcionada
afinal você não me deve mais nada,
mas eu não consigo evitar de estar totalmente mudada
enquanto você permanece dormente.  
Aqui estamos nós dois
deitamos em uma cama desconfortável
feita de pregos e fantasmas do passado
os erros se arrastam pelo chão gelado
como correntes que se sentem presas
em corpos cheios de pecados.
Mas eu já não me visto com as velhas roupas
e a culpa não me serve mais
e meus olhos passeiam por meu corpo
e eu quase te digo que eu ando em paz
você deveria fazer o mesmo
(Certas coisas ficam só com a gente).
Agora me levanto cansada
o amor agora tem outro significado
algo de leveza e olhares gentis
meu bem,
em certas camas nos deitamos sozinhos
seguimos agora em caminhos distintos
e se servir de algum consolo agora
escrito em algum lugar distante da memória
seu nome aqui jaz.

Chego tarde da noite em casa, as luzes do meu prédio já estão quase todas apagadas, indicando que a maioria já foi dormir. Do portão do condomínio, consigo ver minha janela, com as luzes igualmente apagadas.

Ao fim do estacionamento, que está localizado no meio de dois prédios, existe um parquinho que está aí desde que me mudei para cá. Ele já é bem antigo, e as crianças não brincam nele mais. Suas cores amarelo e vermelha estão opacas e em vários cantos pode-se ver o ferrugem tomando conta. Um dos balanços está quebrado e pequeno escorregador segue por um fio. Eu me dirijo até ele, quando sinto que não quero entrar em casa. Quando sinto que não quero sentir o cheiro do meu espaço, e os móveis dispostos de certa forma. A casa vazia, as paredes sujas. Meu cheiro no meu quarto e a minha cama, que me espera para deitar.

Sento-me em um dos balaços que pode quebrar a qualquer momento, ainda mais com o peso de uma mulher adulta, mas dou de ombros. Às vezes eu tenho pavor de ficar sozinha, pavor de olhar minha casa e sentir que há espaço suficiente para pensar. Tenho pavor de dormir, por isso preciso de auxilio de um remédio. Fechar os olhos, com a cabeça deitada no travesseiro, faz com que lembranças inundem meu cérebro. De olhos fechados tudo parece mais intenso. As lamentações, o peso dos dias, minhas saudades. Eu continuo olhando para o espaço vazio ao meu lado. Eu não funciono bem sozinha. A solidão sempre grita alto demais para mim, não importa o quanto eu tape os ouvidos. Sentada no balanço, eu acendo um cigarro enquanto eu olho para a lua tão cheia e amarela, por entre as árvores. Eu penso que eu não quero subir as escadas. Sentada ali, me sinto confortável balançando, levemente, para frente e para trás.

Eu sou cheia de medos e inseguranças que quase se sobressaem na pele. Nesses momentos, sem ninguém a minha volta, eu assumo que sou frágil. Uma vez me disseram que eu não pareço insegura. Talvez pela forma que converso, talvez pela forma que me porto. Talvez seja as últimas fotos postadas nas rede sociais. Tudo para fingir bem. Me esconder bem. Tudo para não estar sozinha, sentada no velho parquinho do prédio.

Meu cigarro queima rápido demais e não demora a eu jogar a bituca no lixo. A vontade é acender outro. Eu estou fumando demais. Vivo sobre a ajuda de coisas externas. Antidepressivos, controladores de humor, indutores de sono. Cigarro para acordar, depois do café. Cigarro para pensar. Um calmante se eu tiver um crise, cigarros também para aguentar crises. Sexo se estiver me sentindo sozinha. Talvez uma balada. Eu não me basto. Café para acordar e curar a ressaca. Álcool para me divertir, talvez outras drogas, dependendo do tamanho do estrago. Tudo para tentar possuir por mais tempo uma felicidade que nunca foi minha por direito. Terceirizando os serviços que eu deveria fazer por mim mesma.

Tudo que vai contra ao que aprendi na terapia.

Me balanço um pouco mais forte, e o rangido das correntes começa a ecoar por todo o estacionamento. Agora, consigo sentir o vento contra meu rosto e meus cabelos esvoaçarem contra o impacto. Eu queria estar confortável dentro de mim, mas me sinto apertada dentro dessa pele que parece mais uma roupa justa demais. Não é questão de chorar mais, é uma questão de um entorpecimento a longo prazo. Agora estou indo mais rápido, eu quase me sinto tranquila. Quase não penso em mais nada. Quase… Agarrando essa frágil paz pelas mãos.

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